
O último post ficou nos meus rascunhos por quase 20 dias. Realmente precisei dar um tempo do blog, de tudo. Na semana passada me atualizei rapidamente e já vi tantas boas notícias nos blogs das amigas tentantes. Que alegria! Escrever é a coisa que eu mais gosto de fazer e pretendo continuar atualizando o blog, mesmo que não consiga com tanta frequência. Sem contar que a rede virtual de solidariedade é incrível. Me emocionam todos os comentários, de meninas que nem me conhecem e estão torcendo por mim, mandando boas energias. É algo muito especial mesmo e com o qual não quero deixar de contar.
Há duas semanas tivemos uma reunião/consulta via Skype com a enfermeira do setor de Terceira Via da clínica de SP. Muito simpática, ela nos explicou um pouco mais detalhadamente todo o processo e esclareceu que existe sim uma fila de espera pela ovodoação - em novembro eram 87 casais - mas que não é necessariamente por "ordem de chegada", já que há outros fatores que são usados como critério. Se um casal asiático for o primeiro da fila, mas os óvulos doados disponíveis forem de uma mulher nórdica, eles serão destinados a um casal com esse perfil, mesmo que sejam os últimos da "fila".
É para casais com perfis mais específicos (asiáticos, nórdicos, indianos, por exemplo...) que o processo de seleção da doadora pode ser mais demorado e levar os tais seis meses que ela tinha comentado. No nosso caso, como estamos mais "na média" da população brasileira - pele morena, cabelos e olhos castanhos - costuma ser menos demorado.
A clínica começou o mês de novembro com 87 pessoas inscritas na fila para receber doação de óvulos. Até o momento, 20 já conseguiram um "match" e, em média, cerca de 40 por mês são contempladas com a ovodoação. Isso apenas numa clínica de São Paulo e em um mês. Multiplica por todas as clínicas do Brasil, soma com as do mundo e dá um número gigantesco de pessoas. Mas continua sendo um tabu, mundo afora.
Já preenchemos o nosso cadastro no mês passado e agora vamos aguardar o recebimento dos perfis que nos serão encaminhados. O setor de Terceira Via faz a seleção e envia para os candidatos de duas a três opções de dossiê de mulheres doadoras, que contém uma série de informações. Além das fenotípicas, outras como naturalidade e escolaridade. E, pasmem, há quem ainda parece acreditar na teoria de Lamarck e recusa perfis de mulheres nordestinas ou sem segundo grau completo. Definitivamente esse não é o nosso caso.
Inclusive, vamos optar por não ver a foto da doadora. Outra coisa que eu não sabia - e que também é diferente na embriodoação - é que as fichas incluem uma foto da doadora quando criança. Achamos um tanto quanto esquisito esse procedimento. Sei que é improvável, mas vai que reconheço a pessoa? Não julgo quem precisa da foto pra fazer sua escolha. Mas pra mim é um pouco difícil entender o porquê dessa necessidade. Qual é a probabilidade de a criança da foto ser a "minha cara"? E outra: podemos ficar condicionados a achar que nosso filho será igualzinho à doadora criança. Sei lá, pode ser até que mude de ideia porque tudo muda tanto, mas, por enquanto, vamos dispensar a foto.
Outra questão que ainda desperta em mim muitas e muitas dúvidas é sobre contar ou não para as pessoas sobre a doação de óvulos, caso ela se concretize. Inclusive esse é um dos motivos pelos quais não mais atualizei o blog. Não consigo decidir o que farei caso consiga engravidar por meio da ovodoação. Por um lado, quero falar, ajudar (um pouquinho) a fazer com que isso deixe de ser um assunto Voldemort - aquele que não deve ser nomeado. Se não falar nada, já imagino os comentários "mas ele/a é a cara do pai", "não tem nadinha seu", "coitada, carregou 9 meses e saiu só a cara do pai" ou, ainda, caso não se pareça conosco "é filho/a do padeiro?", "não tem nada de vocês", "vocês eram assim quando nasceram? Mudaram muito." E por aí vai no rol dos comentários que costumam não importar pra maioria das pessoas.
Contando pras pessoas, talvez houvesse menos comentários desse tipo. Mas como é que faz isso? Faz uma tatuagem na testa? Bota um colar na criança? Posta no Facebook? Ou conta só pra familiares e amigos mais próximos e dane-se a opinião dos outros? Ou não conta pra ninguém? Pode ser caraminhola da minha cabeça, mas já imagino o carimbo do estigma.
Se optasse pela embriodoação, não teria dúvidas de que contaria para todo mundo - talvez não para aquela pessoa sem noção no meio da Lojas Americanas. Mas é mais fácil de explicar que adotamos um embrião do que falar que precisei de um óvulo doado. Ao menos pra mim. Pras outras pessoas que recorrem a alternativas pra conseguir engravidar eu não sei. Se sobre FIV ninguém fala, imagina ovo e embriodoação.
Tem horas - muitas horas - que cansa viver nesse mundo tão cheio de tabus. Queria dizer que vou ter coragem de, ao menos no meu universo, rompê-los. Porque a única coisa que importa verdadeiramente é o amor com que vamos criar nossos filhos. E que não interessa o que achem porque só eu e meu marido sabemos o que enfrentamos. Mas a verdade é que não sei se terei a coragem que gostaria.