quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Quando vocês vão se animar?

Vocês não querem ter filhos? Quando vão se animar? Estão demorando muito! Estão casados há quanto tempo? E não pensam ainda em ter filhos? Já podem começar a planejar! A sua irmã já teve filho, agora só falta você! Não é exagero dizer que, nos últimos três anos,  praticamente todos os dias  - em que saí de casa e interagi com pessoas - ouvi alguma das perguntas acima ou variações sobre o mesmo tema. A irmã da ex-mulher do meu sogro, que vi apenas duas vezes na vida. A chefe. A estagiária recém-chegada. A colega de trabalho com quem não tenho muita intimidade. O marido da amiga. A amiga. O amigo do marido. A amiga antiga que não via há anos. O dentista. A dermatologista. A diarista. São apenas algumas das pessoas que me perguntaram quando e se eu não queria ter filhos. E apenas algumas das pessoas com quem eu não queria falar sobre o assunto.

Hoje foi a estagiária nova, que achou que cinco anos já era tempo suficiente de casamento para ter um filho. Ontem foi a dentista, que assumiu que "daqui a pouco eu vou querer ter neném". Anteontem a chefe que perguntou se eu quero ter filhos. No fim de semana, o amigo mexicano de passagem pela cidade que questionou se eu não queria engravidar, já que a maioria das minhas amigas está grávida ou com filhos. Eu estou absolutamente ciente de que ninguém faz por mal. Eu sei mesmo. Mas é que cada pergunta dessa é como uma punhalada no peito. Como um lembrete de que não, eu não consigo engravidar naturalmente, ou pelo menos não consegui ainda em três anos. Um (not so) friendly reminder de que há 36 meses eu vivo tentando, sem sucesso. E dói. Mas você tem que fingir que não dói. E tem que achar graça quando alguém brinca que você está grávida porque passou mal. E tem que sorrir amarelo quando dizem que você está demorando muito, que todo mundo está passando na sua frente. E mentir, responder que "ainda não", que "não temos pressa", que "queremos viajar muito juntos ainda", "que não sabemos". Mentira doída.

Outro dia jantamos com um casal muito querido que vive em São Paulo. Ela está grávida. Eu honestamente já estava preparada para que eles perguntassem: "E vocês? Não estão querendo?" ou alguma outra variação da questão. Minha resposta evasiva de sempre já estava mentalmente ensaiada. Mas eles não falaram nada. Não fizeram nenhum questionamento e eu achei tão respeitoso. Não me senti invadida, não me vi obrigada a mentir, não precisei relembrar como é difícil tentar engravidar e não conseguir. Porque em quase todo evento social é assim: mais cedo ou mais tarde o assunto surge. E mais cedo ou mais tarde a gente inventa um caô, desconversa, se faz de desentendido ou ri amarelo - chorando por dentro.

Passar por dificuldade de engravidar me fez ter muito mais atenção ao que eu falo com os outros, ao que pergunto, ao quanto invado a intimidade deles sem que eles tenham me permitido. Agora sou muito mais cuidadosa porque a verdade é que nunca sabemos o que as pessoas podem estar enfrentando. Eu desejo muito que a infertilidade deixe de ser um tabu e que eu possa falar, se eu quiser: "Poxa, ter filhos é o nosso maior sonho, mas não conseguimos engravidar. Há três anos que tentamos. Já fizemos uma fertilização in vitro, que não deu certo, e foi o pior dia de nossas vidas quando pegamos o resultado negativo. Depois de muitas doses de remédio e um longo tratamento, conseguimos três embriões. Amanhã eles serão implantados. É mentira que eu preciso ir ao dentista".

Mas também desejo que as pessoas se coloquem mais no lugar do outro e lembrem que a maternidade é uma escolha estritamente pessoal ou do casal. E que saibam que existe ao menos uma categoria de pessoas que pode não querer falar com você sobre seus planos para a maternidade. Quem não consegue engravidar já lida com muitas questões para precisar dar satisfação para quem quer que seja. Pense nisso na próxima vez.

2 comentários:

  1. Olá!
    Vi sua visita ao meu blog e resolvi conhecer o seu.
    Sempre começo do início na leitura de blogs (sou meio sistemática). Até agora li os dois primeiros posts e me identifiquei muito. Concordo em tudo com o que vc disse.
    Estarei voltando, sempre que tiver uma brecha aqui no serviço, para conhecer mais sua história. Saber que existem pessoas que passam pelo mesmo que nós nos fortalece em nossa caminhada.
    Adorei conhecer seu blog e estou animada em conhecer sua história toda. Seguindo-te agora!
    Super beijo!!!

    ResponderExcluir
  2. Oi Ana, tudo bem? Obrigada pela visita. Eu no começo escrevia só pra mim, mas tem sido muito bom trocar com pessoas que estão passando pelo mesmo que a gente, com certeza ajuda a dar força nessa dura caminhada. Qual é o seu blog? Pelo perfil do comentário não estou conseguindo acessá-lo. Beijos!!!

    ResponderExcluir