quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A falta de empatia

Quarenta e um ciclos. Isso dá, aproximadamente, 3,4 anos anos. Quase três anose meio de negativos. Todo mês tendo uma má notícia. E ouvindo e lendo coisas que não contribuem muito superar o que significa ter dificuldade para engravidar. A verdade é que, como o tema é um tabu, as pessoas não sabem o que dizer. Não que elas sejam culpadas por isso. Mas que falta empatia, ah, isso falta, até porque problemas de fertilidade não são uma questão de quem ninguém nunca ouviu falar. Só que, como resultado disso, eu acabo preferindo não falar com ninguém sobre o assunto.

Porque ouvir de uma amiga "Ah, é muito normal não dar certo na primeira tentativa" quando você conta que fez uma FIV não traz nada de bom. É claro que sim, é normal, as estatísticas não mentem, mas é também terrivelmente doloroso, imensamente triste, além de frustrante e desgastante - somente para usar alguns adjetivos que se aplicam ao momento. 

Talvez não traz nenhum conforto escutar de outra pessoa que talvez a fertilização não seja o tratamento mais adequado, que talvez tenha sido uma indicação médica precipitada e com vistas ao lucro. Precipitado para quem? Questionar nossa opção pela FIV é questionar nossa capacidade de decidir, é duvidar da nossa lucidez. É nos chamar de exagerados, achar que não nos esforçamos o suficiente, que a culpa não é dos nossos hormônios e aparelhos reprodutores, mas da nossa cabeça - imatura, ansiosa, infantil. É dizer que, se fôssemos mais emocionalmente inteligente, teríamos conseguido uma gravidez natural. Sem dúvida que, num processo como esse, a inteligência emocional é importante pra caramba. Mas poxa, porque haveríamos de nos boicotar dessa forma?Por que nossas mentes não contribuiriam para que conseguissemos realizar o maior sonho de nossas vida? E talvez, sim, eu seja fraca, ou sejamos fracos. Mas ouvir isso não consola.

"Tenho uma amiga que está passando exatamente por isso."Assim, exatamente, exatamente é muito difícil que seja. São inúmeras as combinações de  fatores que levam à infertilidade conjugal. E é bastante improvável que sua amiga e o marido tenham as mesmas questões. Generalizar é sempre complicado.

"Um casal de amigos tentou por 10 anos e engravidou naturalmente depois que desistiu". "Minha prima engravidou no memso mês em que adotou uma criança." Fico, de verdade, e não é hipocrisia, feliz por esses casais. E ficaria muito feliz se acontecesse com a gente. Só que isso ajuda a alimentar falsas esperanças. Porque a verdade é que só se falam dos casos bem-sucedidos. Ninguém quer ficar contando a sua história de fracaso. 

Não existe um consolo e nem um conselho ideal. Mas o melhor é que o interlocutor pode fazer é escutar. Colocar-se à disposição. Ter cuidado com o que fala. Fazer perguntas e aceitar não-respostas. Falar de outro asunto quando necessário. Caminhar ao lado.

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