domingo, 18 de dezembro de 2016

Na hora do almoço

Hot Lunch

Há um tempinho, fiquei sabendo que uma colega tem dificuldades para engravidar - não sei os motivos, não sei a história, só tenho essa vaga informação. Considero vaga porque cada história de infertilidade é diferente - ela pode ter tentado 5 anos naturalmente, ter tido repetidos abortos naturais, ter feito 10 FIVs, ter feito uma IA, ter se submetido a uma ovodoação, ter retirado o ovário numa cirurgia, ter um marido vasectomizado, ter um marido com azoospermia, enfim, são inúmeras as possibilidades. E também porque soube dessa informação por uma terceira pessoa que não enfrentou problemas de infertilidade e, portanto, não faz ideia do que ela possa ter passado.

Dia desss, acabei indo almoçar com essa colega, que obviamente não faz ideia que eu tenho essa informação sobre ela, e mais outras duas pessoas. Como invariavelmente acontece quando há mulheres na faixa dos 30 anos envolvidas, o assunto girou em torno da maternidade. Como deve ser loucura chegar com um bebê em casa. Deve dar medo, né? E passou pra histórias de adoção. Porque a fulana tentou muito tempo engravidar, tipo 6 anos, e não conseguiu. A outra também tentou muito, mas não teve jeito. Acabaram adotando. Mas ainda tem aquela que adotou e, um ano depois, engravidou naturalmente. Acontece muito. É muito comum. É tão frequente.

Nessas horas você faz o que? Finge. Mente. Sorri amarelo. Faz de conta que adoção é algo que nunca passou pela sua cabeça. Que você nem imagina o que seja enfrentar problemas de infertilidade. Comenta sobre o programa de TV que abordava o tema. E fica mentalizando "vamos mudar de assunto, vamos mudar de assunto, está tão quente/frio, será que vai chover/fazer sol, já terminaram de ver a última temporada de black mirror/gilmore girls/lovesick?". Mas o tema permanece na mesa. A colega opina também. E você fica imaginando se ela está como você. Fingindo, torcendo pro assunto variar, se sentindo mal por, mais uma vez, num inocente almoço rápido de trabalho, estar sendo lembrada da sua dificuldade. E pensa em quantas mulheres não devem se sentir como eu, como nós. Silenciadas.

12 comentários:

  1. Nossa, amiga, me senti tão "eu" nesta sua postagem!Quando vou almoçar com as colegas de trabalho, todas ficam exibindo orgulhosamente os celulares com fotos e vídeos dos filhos e eu só falando: Nossa, que lindo, que fofo, que vontade de morder....afff
    A minha vontade, no entanto, é pedir para mudar de assunto, pois cada vez que o assunto "maternidade' vem a tona, eu lembro o quão difícil é tentar e não conseguir...

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  2. Tentei esses tempos voltar a sair com as minhas amigas. Não deu. Elas não tem outro assunto.
    Como são/eram amigas muito próximas, há algum (pouco) tempo resolvi abrir o jogo e na última tentativa de conviver com elas tentei falar naturalmente sobre fiv e possibilidade de adoção. Não adianta, isso não é natural pra elas. E elas não paraaaam de falar da própria gestação, da gestação alheia, de filhos.
    Simplesmente não consigo manter um relacionamento com elas nesse momento. =(

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    1. Isso me decepciona demais! Pessoas que sabem do meu problema e agem dessa forma.
      Posso estar falando demais mas se fosse eu nestas ocasiões, acho que evitaria falar no assunto. Ainda mais se tivesse caminhado pela infertilidade como muitas conhecidas minhas. Pessoas nessas condições, que passaram pela infertilidade, sabem do meu problema e não tem sensibilidade em abordar este assunto perto de mim me decepcionam muito... Triste...

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    2. Não adianta mesmo M... mesmo que a gente conte, não é natural, não entendem...

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    3. Ana, não consigo entender que enfrentou problemas de infertilidade e depois simplesmente esquece disso... acho bem louco.

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  3. Pior de tudo quanto tem uma colega grávida junto, né? Tem horas que até eu enjoo de falar de maternidade...
    Beijinhos

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    1. haha e nesse caso tinha, Fran. Mas ela sabe por alto da minha história. Bjs

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  4. Falou tudo. Quantas vezes conversamos sobre esse assunto e não sabemos quem está de sorriso amarelo, desejando mudar o papo.

    Casa dos 30 muito normal cair neste tema. :/

    Viva os nossos sorrisos amarelos! só que não.

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  5. Estou lendo seu relato neste momento aqui no serviço e até dei um suspiro alto... Este acho que tem sido o meu maior dilema ultimamente.. Chego a ficar irritada e me perguntando: com tanto a administrar dentro de mim, ainda tenho que aguentar isso?!?!?
    Sei bem que ninguém tem culpa do meu problema e blá blá blá... Mas será que posso também me dar o direito de deixar de ser a educadinha, ser "Incompreensiva" e ficar irritada "por dentro" nestas ocasiões?
    Beijos pra você, barriga positiva! Obrigada pelos textos que me identifico tanto e me livram de me sentir sozinha no mundo...

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    1. Ana, obrigada pelo comentário. Fico muito feliz que goste do meu texto. Você não está sozinha! Estamos juntas. E vivo bem esse dilema: sei que ninguém tem culpa, não é de propósito, não é por mal. Mas cansa... beijos e um feliz 2017!

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