quarta-feira, 25 de maio de 2016

A coenzima Q10

Cell

Comentei no post sobre a consulta em São Paulo que o médico passou alguns remédios para eu começar a tomar, um deles a Coenzima Q10. Já tinha ouvido falar dessa medicação, mas, como nenhum dos quatro especialistas em reprodução e nem a ginecologista recomendaram, nunca havia usado.

E aí o médico paulistano pediu que eu usasse e explicou para que serve. A coenzima Q10 (ubiquinona) nada mais é do que um antioxidante que contribui para evitar o envelhecimento celular. Mas por que é recomendado para mulheres com falência ovariana precoce? Justamente para tentar retardar o envelhecimento do ovário.

A explicação técnica é um pouco complexa, me fez até voltar no tempo (longínquo) das aulas de ciências. A coenzima Q10 está presente em todos os tecidos do corpo humano. Essa substância é essencial para que a célula produza ATP, considerada a unidade básica de energia necessária para o corpo manter as funções vitais.

A concentração maior de coenzima Q10 se dá nas mitocôndrias, que ficam fora do núcleo da célula (olha aí a aula de ciências). Quanto mais idade tiver a mulher, menos mitocôndrias e menor produção de ATP ela terá. O mesmo vale para mulheres com falência ovariana precoce, como eu.

O que a suplementação da coenzima Q10 faz é aumentar a quantidade dessa substância nas mitocôndrias, provocando uma "explosão de energia", nas palavras do médico. Essa explosão de energia, traduzida pela produção maior de ATP, ajuda os óvulos a se tornarem maduros com mais qualidade, o que forma embriões melhores e com mais chances de serem implantados. Várias pesquisas já foram publicadas atestando essa eficácia.

A substância é encontrada em alimentos como sardinha, cavalinha, óleo de soja, nozes, fígado de boi e amendoins. Alimentos que, aliás, quase não consumo. Mas ao menos os peixes e as nozes e amendoins vou tentar incluir na dieta.

Li um relato de uma mulher que passou a usar a CoQ10 após três abortos e cinco falhas de implantação em FIVs, com diagnóstico de trombofilia. Nas FIVs sem CoQ10 mantinha uma média de 9-11 folículos. Depois de começar a tomar a CoQ10 teve 22 folículos no D3 do ciclo e 30 folículos no dia da coleta: 22 maduros, 11 fertilizados e quatro blastocistos. Tipo elixir da vida mesmo, como alguns sites exageradamente classificam a CoQ10!

O médico paulistano deixou bem claro que não existe nenhuma garantia de sucesso, mas que há, na literatura, relatos da eficácia da suplementação da CoQ10. O que eu me pergunto (sempre!) é por que diabos nenhum outro médico me passou essa medicação antes? Foi em fevereiro de 2015 que descobri o anti-mulleriano baixo e recebi o diagnóstico de FOP/baixa reserva e, desde então, já fiz quatro FIVs....

Enfim, vou tentar me apegar ao clichê de que "as coisas acontecem na hora que têm que acontecer" e tentar parar de questionar o passado e focar no futuro, mantendo as esperanças de que a CoQ10, mesmo não sendo milagrosa, ajude um pouquinho a energizar nosso futuro blastocisto.

Fonte para a aula de ciências

sábado, 21 de maio de 2016

Sessão de terapia



Na quinta-feira, depois da consulta em São Paulo, tive a minha primeira sessão de terapia. Em março deste ano eu já havia procurado uma psicóloga. Ela estava tentando formar um grupo de apoio para mulheres com dificuldade para engravidar e achei que poderia ser de grande valia. Marquei uma consulta individual, mas rolou zero empatia. Achei que ela minimizou a minha questão, dizendo que era "só" isso que me "incomodava", que meu problema era muito focado e por isso não via sentido na terapia individual. Me encaminhou para a de grupo. Até estava disposta, mas o grupo acabou não se formando e ela perdeu uma paciente.

Eu nunca havia feito terapia nos meus 33 anos. Não por duvidar ou desacreditar, mas por não ter sentido necessidade mesmo. Mas, desde que a infertilidade apareceu na minha vida, venho pensando nisso, sempre adiando por conta dos custos, afinal, a prioridade sempre foi guardar dinheiro pras FIVs. Até que uma amiga do trabalho me indicou uma psicanalista do nosso plano e eu resolvi marcar.

Inicialmente ela disse que o consultório estava cheio e me encaminhou para um colega. Mas fiquei relutante em procurar um homem. Quando ela me mandou whatsapp me perguntando se eu havia gostado da indicação, eu fui sincera e então ela disse que daria um jeito de me atender.

E lá fui eu, na quinta-feira, para a primeira sessão de terapia que, na verdade, não é terapia mas psicoanálise. Confesso que nunca soube bem a diferença, mas ela me explicou rapidamente. Enquanto a terapia trabalha a consciência, a psicoanálise atua na inconsciência. A análise também é uma terapia mais longa, enquanto a terapia costuma ser mais focada. Além disso, o psicoanalista, que pode ser psicólogo ou médico, precisa de supervisão e se submete também à psicoanálise. Em linhas bem gerais é isso.

Disse a ela que não tinha muita certeza do que estava buscando e pedi que me dissesse se achasse que o meu caso não era adequado à sua linha de atuação. Mas, assim que comecei a contar a longa história, ela falou "Que bom que você veio". Espero mesmo que seja bom e que me ajude, de alguma forma, a administrar a ansiedade, as frustrações e os medos e a fazer com que eu volte a ter interesse em outras coisas, a ter vontade de sair e de socializar com pessoas, porque estou perdendo tudo isso. Minha vida passou a girar somente em torno da infertilidade e tenho plena consciência de que bem isso não faz. Só que não consigo evitar.

Acho, inclusive, que as clínicas poderiam ser mais enfáticas ao oferecer também apoio emocional. Na primeira clínica, somente após três FIVs negativas a psicóloga me procurou. Quase todas contam com um profissional de psicologia especializado e esse suporte deveria ser sugerido a todos os casais que iniciam um tratamento. Claro que aceitaria quem quisesse, mas, ao explicar o protocolo, o médico especialista em reprodução poderia ressaltar os benefícios que um acompanhamento psicológico pode trazer ao processo. Mas a verdade é que, por mais paradoxal que seja, já que o trabalho deles é justamente gerar vidas, ainda me parece faltar humanização a muitas clínicas e especialistas em reprodução.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

A consulta na terra da garoa: novas esperanças




Passing hope

Voltamos da ida relâmpago a São Paulo. Fomos na terça à noite - deu tempo até de comer um pizza paulistana bem boa. Ficamos um hotel bem ruinzinho, mas pertinho da clínica, onde a consulta estava marcada pras 13h da quarta-feira, 18.

Dava até pra ir a pé, mas, como chovia muito, pegamos um uber e chegamos lá por volta de 12h30. Finalizamos os cadastros com a secretária, entregamos os exames recentes e nossos nomes foram colados numa pastinha. Tudo bem ágil e organizado. Esperamos um pouco na recepção, porque chegamos adiantados, e fomos chamados pontualmente às 13h. Um médico que não atrasa já ganha muitos pontos comigo - sei que um ginecologista especializado em fertilidade pode ter emergências, uma punção que precisou ser adiantada, uma paciente que pode ter uma complicação, mas o nosso último médico atrasava demais, então, ser chamada na hora é um alívio. 

A boa primeira impressão que tivemos da clínica se confirmou com o médico: gostamos muito dele. Simpático, didático, organizado, otimista e realista. A consulta durou mais de 1h30, o que também é raro, e nesse tempo ele falou várias coisas, nós tiramos muitas dúvidas. Alguns dos pontos tratados:

  • Ele acha que, nesses 3 anos e meio, fomos muito bem investigados. Não vai nos pedir exames complementares. Está muito claro que o nosso problema é o que ele chama de "fator ovariano", ou seja, a minha baixa reserva e possível falência ovariana precoce.

  • O que ele acha importante saber é se eu ainda tenho capacidade de produzir óvulos de qualidade. Caso eu não tenha, talvez não valha continuar insistindo na FIV. Mas ele disse também que mulheres com baixa reserva ovariana e menos de 35 anos têm mais chances de ainda produzirem óvulos de qualidade.

  • A forma de saber se eu ainda sou capaz de produzir bons óvulos ou não é por meio da biópsia do embrião. A biópsia, que geralmente é feita no 5o dia de desenvolvimento do embrião, determina se o embrião é cromossomicamente normal ou não. Com o resultado de um embrião cromossomicamente normal, a chance de gestação é de aproximadamente entre 65 e 70%, independentemente da indicação e da idade da mulher. Pro nosso caso, de baixa reserva e repetidas falhas de implantação, ele recomenda que façamos a biópsia.

  • Na clínica eles só fazem implantação de embriões em estágio de blastocisto, no 5o de desenvolvimento (D5). São raras as exceções em que implantam em D3. Ele disse que com um embrião de dois dias com duas células, como na nossa última FIV, as chances eram realmente mínimas. Nós tivemos quatro embriões D3 na primeira clínica e um D2 na segunda. Ele ficou com rodeios para dizer, mas eu falei logo: ninguém quis pagar pra ver se chegaria a D5, né? E ele concordou. E disse que chega uma hora no tratamento em que você precisa arriscar. Se nosso embrião não chegar a D5, ele possivelmente não irá evoluir dentro do útero. Mas e a teoria de que o embrião tem mais chances de se desenvolver no corpo da mulher do que fora (argumento usado pelo último médico para implantar no D2)? Segundo ele, essa teoria só é verdade se o laboratório, o biólogo e o embriologista não forem bons. Como o laboratório da clínica é reconhecidamente o melhor da América Latina,  ele garante condições de reprodução in vitro equivalentes às humanas. Gostei dessa confiança e concordo em esperar para ver se chega a D5 na próxima. Um embrião no estágio de blastocisto tem de 50 a 100 células! Compara com nosso último embriãozinho que tinha somente duas células e calcula as chances de dar certo em cada caso...

  • Ele fez uma ultra e viu que meu ovário direito está realmente diminuído e só tinha um folículo minúsculo. No ovário esquerdo ele viu três folículos, de tamanhos até bons: 16mm, 8,5mm e um pequenino. Nessa mesma fase, uma mulher com reserva ovariana normal costuma ter de 7 a 10 folículos em cada ovário...
E quais são os próximos passos?  

What's the next step?

Para começar, ele me passou duas medicações: testosterona em gel, que eu já usei na última FIV com objetivo de estimular a produção folicular. Mas dessa vez vou começar a passar com muito mais antecedência. O outro remédio foi a Coenzima Q10, um antioxidante que pode ajudar a prevenir o envelhecimento do ovário e dos folículos e que tem contribuído para o sucesso de algums FIVs - sem nenhuma garantia, claro.  Além disso, continuo tudoo que já tomo: ácido fólico, vitamina C, vitamina D e vitamina B e o remédio pra controlar a prolactina.

Agora vamos esperar o próximo ciclo começar. Quando eu ficar menstruada, ele deve passar um regulador de menstruação (não é pílula, porque ele acha que é sintético demais) para poder controlar o início do outro ciclo, quando, então, deveremos dar início à FIV. Isso deve ser apenas em julho. Eu já queria começar hoje, ontem, anteontem de preferência. Mas vamos aguardar porque não temos muita alternativa mesmo é o melhor a fazer. 

Ele indica um profissional para fazer as ultras de acompanhamento no Rio, então eu precisaria ir para São Paulo somente para a última ultra, coleta dos óvulos e transferência, o que já ajuda bastante a operacionalizar o tratamento em outra cidade. Seriam só 4 ou 5 dias em Sampa, e não todo o tratamento, então é mais fácil de conseguir dar um jeito no trabalho. E se tiver que correr pra SP dá até pra pegar um ônibus na madruga pra chegar lá cedinho e economizando, porque ponte-aérea em cima da hora é uma facada...

O post ficou enorme. Tem mais algumas coisas que o médico falou e novas questões e reflexões que surgiram. Mas vou escrevendo sobre elas nos próximos dias. Mas o melhor de tudo é que as esperanças se renovaram, ao menos um pouco. 


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Rumo a São Paulo



Tem horas que acho que é maluquice. Não tenho nem ideia de como faria para operacionalizar logística e financeiramente um tratamento de FIV em São Paulo. Trabalho numa empresa tradicional, até tenho alguma flexibilidade negociada caso a caso com minha chefe, mas cumpro oito horas de trabalho presencial por dia no Rio de Janeiro. Não temos mais nenhuma reserva financeira. Mas eu quero ir. Algo está me dizendo que é pra ir, que devemos tentar, nos cercar das melhores possibilidades, então nós vamos.

Depois que conversei com o médico, a secretária entrou em contato comigo e perguntei sobre a possibilidade de uma consulta no sábado ou então numa segunda ou sexta, dias mais fáceis para conseguir uma folga emendada no fim de semana. Mas ela me liga para dizer que ele conseguiu nos encaixar... na quarta-feira, dia 18. Bem no meio da semana! Então pedi uma folga guardada, marido negociou pra trabalhar no feriado, junta um pouco de milha daqui, parcela dali, estamos com passagens compradas para nos consultarmos com esse especialista de SP depois de amanhã.

No fundo nem tão fundo assim eu já estou bastante tentada a fazer o tratamento lá, mas a ideia é ir nessa primeira consulta, escutar, tirar todas as dúvidas para, então, decidir o que fazer. A clínica de antemão me parece mais organizada do que as três pelas quais passamos no RJ - embora eu talvez tenha achado isso a cada vez que mudamos.

Mas, além de um cadastro pelo telefone, tivemos que preencher quatro documentos bem detalhados sobre nosso histórico médico e familiar, com algumas perguntas que nenhum outro médico nos fez anteriormente. Recebi o formulário na sexta no fim do dia e no sábado escreveram me cobrando porque não estavam localizando as informações - nem tinha dado tempo ainda de responder. Gostei da organização.

Além disso, o médico pediu alguns exames que nunca tinha feito, como:
  • Antitrombina: 123% (referência 75 a 125%)
  • Cardiolipina iGG: 1.2 GPL-U/mL (referência Nao Reativo - Inferior a 10 GPL-U/mL)
  • Cardiolipina IGM: 2.1 MPL-U/mL (Nao Reativo - Inferior a 10 MPL-U/mL)
  • Pesquisa da mutação do Fator V de Leiden: resultado ainda não saiu
  • Pesquisa de mutação da protrombina: o laboratório não cobria e eu vou procurar outro para fazer.
Pelo que pesquisei, todos são para investigar trombofilia. Por enquanto, continuo com fator baixo de trombose devido à mutação da MTHFR A1298C heterozigoto.

Estou tentando trabalhar a expectativa porque sei que o médico paulista não vai inventar a pólvora. Que nosso caso tem mesmo limitações. Mas, enquanto eu ainda produzir óvulos e essa maldita menopausa precoce não chegar, preciso manter as esperanças.

terça-feira, 10 de maio de 2016

E agora, José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

Agora eu estou perdida. Não tenho vontade de fazer nada: saio para trabalhar porque não tenho alternativa e passo o dia esperando o momento de voltar para casa, torcendo para que o trânsito colabore hoje, só hoje, para eu poder chegar mais cedo. No sábado, me forcei a sair de casa. Pastel na feira, um programa que eu geralmente adoro, mas eu só queria ir embora.

Fica martelando na minha cabeça o que nosso médico falou. Com todas as palavras ele sentenciou que, sim, eu tenho falência ovariana precoce. Não é somente uma baixa reserva: meu ovário direito está quase falido e o esquerdo produz cada vez menos óvulos com qualidade cada vez pior. E é só ladeira abaixo... Ele nos aconselhou a pensar na possibilidade de ovodoação. Por que será que vale a pena continuar insistindo com esse sofrimento todo, ele questionou.

Mas para mim ainda vale. A ovodoação é uma opção maravilhosa que ajuda muitas mulheres a realizarem o sonho de ser mãe. Se eu produzisse óvulos excedentes, eu optaria por doá-los, sem pestanejar. Mas essa ainda não é uma alternativa que quero considerar. Digo que ainda não é porque pode ser que se torne, no longo ou até no curto prazo, mas por enquanto não.

Nosso médico falou conosco na segunda e pediu que pensássemos e ligássemos pra ele na terça. Como se fosse simples tomar uma decisão dessas - ovodoação ou desistir de tentar - de um dia pro outro. O que aconteceu? Eu não liguei. E comecei a pensar em alternativas.

Recebi a indicação de um médico de São Paulo, sobre o qual já tinha lido na internet e que me foi sugerido por outras tentantes também. Ele é de uma clínica famosinha, tida como referência na América Latina. Ontem conversei com ele pelo telefone. Contei nosso caso e ele se colocou à disposição para ajudar e nos atender lá. Decidimos que vamos para uma primeira consulta, conhecê-lo e ver o que nos sugere.

No telefone ele falou duas coisas que ajudaram a dar uma animadinha:
  1. Biópsia do embrião. Nosso médico atual não mencionou essa possibilidade. O médico paulista disse que, no meu caso, de sucessivas implantações negativas, ele recomenda. Saber se geramos embriões geneticamente normais ajuda a entender o sucesso e o fracasso da implantação. Ainda preciso pesquisar mais sobre isso, mas, se há uma forma de investigar o porquê de tantas falhas, eu quero usá-la.
  2. O médico paulista também comentou que meu anti-mulleriano é baixo, mas ainda permite alguma "manobra", nas palavras dele. E que as mulheres da minha idade (33), ainda jovens, têm mais chances de sucesso mesmo com a baixa reserva e a má resposta ao estímulo.

Ou seja, talvez haja uma luz no fim desse túnel. Não há nenhuma garantia, pode ser mera teimosia, maluquice, ilusão insistir na FIV. Mas a verdade é que a única coisa que me deixa menos triste é pensar na possibilidade de tentar mais uma vez e, dessa vez, dar certo.


sábado, 7 de maio de 2016

Feliz Dia das Mães

Amanhã eu queria desejar Feliz Dia das Mães para você em quem ninguém nunca pensa. Você que há um, dois, três - dez anos, quem sabe - assiste às propagandas na TV com um nó na garganta nessa época do ano. Você que precisa ouvir de pessoas com quem tem pouca intimidade perguntas que você não queria ter que responder - não para elas. Você que tem que aguentar piadinhas a cada vez que se sente mal ou que é questionada quando pede um suco em vez de uma cerveja na mesa de bar.
Você que, na maior parte do tempo, precisa fingir que está tudo bem, quando, na verdade, você está apenas contando dias do calendário, com a cabeça a mil. Você que já passou noites em claro procurando informações na internet sobre a sua dificuldade, buscando o conforto de saber que não está sozinha. Você que está juntando dinheiro para conseguir realizar uma FIV ou que gastou toda sua poupança para fazer o tratamento. Você que precisa inventar desculpas para fugir do trabalho para ir ao médico três vezes por semana. Você que aprendeu até a se autoaplicar injeções apesar do seu medo de agulha. Você que perdeu a conta de quantos exames que fez deram negativo e que já viu as lágrimas secarem de tanto chorar. Você que não desiste do seu sonho. Que afunda, desanima, mas persiste no sonho de ser mãe.

Para você, que está tentando mas ainda não conseguiu engravidar, eu desejo um Feliz Dia das Mães.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A dor é minha só, não é de mais ninguém

Depois do fim de semana, em que me permiti viver a minha tristeza, hoje foi preciso voltar a viver e sair pra trabalhar. De onde tiro forças para conversar sobre amenidades, sobre projetos do trabalho e tocar as coisas, não sei. É como se fosse minha superfície fazendo todas essas coisas enquanto por dentro eu sangro. Não queria almoçar com ninguém, então marquei de fazer a unha no horário de almoco, assim tive uma desculpa pra comer sozinha rapidinho e depois fui pro salão, onde falei de esmaltes, cutículas e do tempo frio. É difícil, aos 33 anos, passar ilesa por um dia sem que o assunto maternidade apareça. Hoje foi a colega que me mostrou o BabyCenter pelo qual ela está acompanhando a gravidez da irmã. E eu faço cara de quem não já calculou no mínimo uma 50 vezes a daa provável de parto e nunca ouvi falar desse site. A outra colega começou a contar sobre o desfralde do filho e hoje eu me permiti me afastar quando ela começou a falar - tinha outras pessoas por perto e eu não passei de mal educada. Porque você está sangrando por dentro mas ninguém faz nem ideia. E ninguém tem culpa disso, é claro que não. Só não sei pra onde fugir pra evitar a dor. E a verdade é que não tem pra onde fugir. É preciso encarar. E eu vou. Talvez demore um pouquinho, mas eu vou.