segunda-feira, 25 de julho de 2016

O pesadelo não tem fim

Tive uma péssima resposta, ainda pior que do último ciclo. Não adiantou a dose mais alta, não adiantou a coenzima, não adiantou tomar nove injeções. Nada adiantou. O médico que fez a ultra na sexta-feira não me disse nada, mas logo vi que não aparecia imagem compatível com folículo na tela. No fim eu perguntei e ele afirmou: não tem nada no ovário direito (que tinha quatro folículos antrais na segunda-feira) e apenas um de 9mm no ovário esquerdo (que tinha apresentado dois folículos antrais). Ou seja: minha resposta foi praticamente nula.

Quando ele falou, eu já sabia que isso significaria mais um ciclo interrompido. Pouco depois me ligaram da clínica de SP, a pedido do médico, informando que deveria mesmo suspender a medicação e interromper o ciclo. De novo. De novo. De novo. De novo. 

Mais um ciclo perdido, esperanças jogadas no lixo.  Mas meu coração se despedaçou mesmo quando o médico me ligou, no fim do dia. Achava que ele poderia fazer alguma nova proposta, sugerir uma alternativa, mas ele enfiou logo uma faca no meu peito. Disse que tinha que ser realista e que eu tinha que saber que existe um limite. "Podemos achar caminhos para vencer a dificuldade. Mas tudo na vida tem um limite". E que eu e meu marido precisávamos entender qual era o nosso limite. Que poderíamos tentar exaurir todas as nossas possibilidades, mas sabendo que nossas chances são mínimas. Basicamente jogou a decisão pra gente.

Eu perguntei sobre o remédio, porque tenho a impressão que não me dou bem com essa medicação (usada também na quarta FIV, mas não nas 3 primeiras) e ele disse que dava no mesmo, que os remédios eram todos parecidos. Mas que, caso eu decidisse tentar mais um ciclo, ele poderia trocar a medicação para o estímulo. E depois eu não consegui falar mais nada, estava em prantos, agradeci chorando e desliguei.

Pela primeira vez, em todos esses anos de tentativas, eu pensei em desistir. Pela primeira vez consegui admitir a ideia de que eu talvez não tenha sido feita para engravidar mesmo. Pela primeira vez eu me imaginei tendo que aprender a lidar com essa frustração ao longo de toda a minha vida. Pela primeira vez eu reconheci que talvez não haja avanço científico capaz de me ajudar. E como tudo isso doeu - ainda está doendo e não sei se vai parar de doer.

Nem nos meus piores pesadelos eu imaginei que não seria capaz de engravidar. É difícil acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Mil coisas passam pela minha cabeça: por que eu não fui avisada que a infertilidade era uma possibilidade, por que não congelei meus óvulos aos 20 anos, por que não fiz uma FIV logo em 2013? Mas a principal é: como serei capaz de suportar essa angústia? Eu realmente não sei.

Me sinto fora do mundo. Não conheço ninguém da minha idade que já tenha enfrentado quatro fertilizações, ninguém que possa fazer brotar alguma ponta de esperança. Na internet nunca encontrei relatos e nem blogs de mulheres que tenham feito tantos tratamentos como eu - se alguém souber e puder compartilhar, agradeço. Elas existem - eu já li um livro que mencionava uma mulher que fez 14 FIVs e conseguiu engravidar - mas não sei onde encontrar suas histórias.

Quando penso que tenho 33 anos, menstruo regularmente e ovulo também fico me perguntando: será que nunca vai dar certo? Será que se eu fizer 10 FIVs eu não vou mesmo engravidar?

No sábado de manhã o médico paulistano me escreveu. Eu tentei fazer com que ele não percebesse meu choro, mas foi meio impossível, então acho que ele se sentiu culpado. E falou sobre um medicamento relativamente novo, chamado Elonva, que consiste em uma única injeção com uma dose de remédio equivalente a de vários dias, que pode contribuir para manter constantes os níveis hormonais em mulheres más respondedoras. Pesquisei bastante e vi que os estudos em más respondedoras ainda são insuficientes, mas há indícios de que pode funcionar bem para esse grupo de mulheres no qual me encaixo. Nada milagroso. No meu caso já sabemos que não vou nunca produzir 20 folículos após uma estimulação. Mas decidi experimentar esse remédio no próximo ciclo.

Sem expectativas, que já não as tenho mais, sem esperanças, que já foram todas jogadas no lixo, sem acreditar, porque a fé não costuma, mas ela falha.





quarta-feira, 20 de julho de 2016

O dia depois de amanhã

Falta pouco para o dia depois do amanhã, quando saberei como estou respondendo ao estímulo para confirmar se poderei seguir com a FIV.  Espero que dessa vez meu corpo tenha reagido direitinho e que todos os folículos estejam crescendo linda e sincronicamente.

Hoje foi o terceiro dia do estímulo. Comprimido de manhã e à noite e injeções. O marido hoje estava comigo, mas rolou nervosismo de ambas as partes e novamente demora infinita para conseguir aspirar todo o líquido do vidrinho. Na maioria das vezes vai rapidinho e quase automático, mas tem outras em que a seringa empaca e fica um pouco de remédio no fundo do vidro.

Quando finalmente terminamos, as duas injeções aplicadas sem dor, resolvemos tentar aspirar as gotinhas que tinham restado em dois vidros. Deu certo rapidinho. E então hoje foram três injeções em vez de duas.

Mas tudo bem, não reclamo. Se for pra dar certo, que sejam quantas injeções forem necessárias.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Segundo dia de estímulo

Gosto do protocolo do médico paulistano, que prescreve a medicação para quatro dias, para avaliar no quinto dia a evolução e decidir como seguir. Nas duas clínicas por onde passei e fiz as quatro FIVs anteriores era um pouco diferente. Na primeira a medicação até era ajustada de acordo com as ultras, mas eu já saia com os remédios comprados para mais dias dia estímulo. Na segunda clínica, pediram para que eu comprasse toda a medicação para 12 dias de estímulo. Saí com três isopores da farmácia.

Mas o principal é que essa estratégia dos quatro dias é mais animadora. A contagem regressiva fica mais "leve". É como se fosse um objetivo macro com pequenas metas a serem cumpridas ao longo do processo. Vou tomar as injeções por quatro dias e hoje já é o segundo, ou seja, metade já foi! Fica mais fácil encarar dessa forma.

Ontem foi o primeiro dia do estímulo. Comecei com um comprimido na hora do almoço outra na hora do jantar, quando o marido também me aplicou as duas injeções. Pois é. Dessa vez serão duas por dia, porque, como a dose aumentou, não dá para diluir tudo em somente um dissolvente. O que foi um pouco chato foi que a enfermeira não me orientou quanto a isso, sorte que eu já tinha lido a bula e lembrava que não dava pra diluir infinitamente.

Mandei um email com a dúvida e a enfermeira me ligou logo depois hoje de manhã para confirmar que eu tinha feito certinho. Ufa! Tenho pouco saco pra ler bula, mas é sim útil...

Hoje tomei o comprimido cedo. À noite, marido tinha um compromisso inadiável e, como resultado, precisei preparar a medicação e me aplicar as injeções sozinha. Não foi a primeira vez. Mas sempre, sempre, sempre fico nervosa. Comecei já fazendo errado e esquecendo de diluir um pó numa seringa. Ainda cabia na outra, então tudo certo. Mas foi mega difícil aspirar a segunda seringa, acabei deixando escapar algumas gotas... Espero que nada muito significativo.

Assim que começo a preparação coloco um saquinho de gelo pra ir anestesiando a barriga. Então, quando finalmente as seringas estão prontas, a barriga tá gelada e é bem mais tranquila a aplicação, quase nem dá pra sentir. Mas acertei não só um, mas dois vasinhos, e as duas picadas sangraram e demoraram a parar. Nenhum sangramento anormal, é bem comum isso acontecer, inclusive. O que não quer dizer que seja agradável.

É engraçado pensar o quanto algumas situações que encaro normalmente hoje me seriam totalmente improváveis há alguns anos. Eu sempre tive pânico (verdadeiro) de agulha, horror a sangue, e hoje eu me aplico injeções sozinha! Nunca pensei que seria capaz. Mas sou!

E rumo ao terceiro dia de estímulo...

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Novo ciclo. E lá vamos nós...

Pois bem. Depois do surto de sexta e sábado, da ansiedade louca que me fez fazer dois testes de farmácia, a menstruação apareceu no domingo. Exatamente como o aplicativo havia previsto.

Temia menstruar no domingo e não conseguir agendar a ultra na segunda, mas liguei, a clínica estava aberta e marquei para 6:45 de hoje. Deu certo e lá fui eu, pela enésima vez, até a clínica bem cedinho, acompanhada pelo marido.

O médico ultrassonografista viu o seguinte:
- quatro folículos antrais no ovário direito;
- dois a três folículos antrais no ovário esquerdo;
- corpo lúteo indicativo de ovulação no ovário esquerdo.

Tudo compatível com um segundo dia de ciclo de uma mulher com baixa reserva ovariana.

Passei os resultados pro médico paulista e ele não demorou a me ligar. Avaliou que o resultado estava bom e pediu que eu começasse logo a medicação. Vai manter o mesmo protocolo, só aumentando um pouco a dose do remédio injetável. O objetivo é maximizar o recrutamento folicular e estimular que todos esses folículos antrais cresçam.

Serão quatro dias de remédio e na sexta-feira retorno para a ultra. Com muita esperança que dessa vez dê certo, que minha resposta seja melhor e que eu possa seguir com o ciclo para a FIV.

Agora têm início quatro dias intensos, em que fica difícil tirar o foco disso. Fico torcendo para que os dias passem rápido, porque cada dia que passa é menos uma injeção pra tomar, menos vidrinho pra quebrar, é um degrau a mais na minha longa caminhada.

"Aponta pra fé e rema"



sexta-feira, 15 de julho de 2016

Já é Natal na Leader Magazine?

No post sobre o ciclo interrompido comentei que a data prevista para a minha menstruação era 17 de julho, segundo o aplicativo no 28º dia do ciclo. Só que chega o Natal, mas não chega o dia 17 de julho.

Nunca vi dias para passarem tão devagar. Eu me distrai, saí no fim de semana, trabalhei e fiquei minhas horas diárias no trânsito. Mas os dias se arrastaram e só fiquei torcendo para que terminassem logo, para que acabasse logo a semana e começasse a outra para ficar mais perto do dia 17 de julho.

Como meus ciclos têm geralmente 26 dias, achei que o aplicativo pudesse estar enganado e que fosse ficar menstruada hoje, 15 de julho, que é o 26º dia do meu ciclo. Fui ao banheiro mil vezes nessa expectativa hoje durante o trabalho e nada. Me bateu um ataque de ansiedade e o que eu fiz? Comprei um teste de farmácia que fiz assim que cheguei em casa, com o 15º xixi do dia e não com o primeiro, como recomendado. Achei que fosse dar negativo, claro, mas o que aconteceu? O teste não funcionou. A tal da linha azul que tinha que ter aparecido no visor de controle não apareceu. Segundo o site da Clearblue, marca do exame, isso pode acontecer:

7. Usei o Teste de Gravidez Clearblue PLUS, mas não apareceu nenhuma linha azul no Visor de controle. O que eu devo fazer?

Se não houver uma linha azul no visor de controle 10 minutos após a realização do teste, o teste não terá funcionado. O motivo pode ser:
  • A Ponta de mudança de cor não foi mantida apontada para baixo ou o medidor de teste não foi mantido na posição estendida depois que a urina foi aplicada.
  • Uma quantidade excessiva ou insuficiente de urina foi usada. Você deve fazer a amostragem por 5 segundos. Você deve fazer o teste novamente com um novo medidor de teste, tomando o cuidado de seguir as instruções. Colete uma amostra da sua urina em um recipiente limpo e seco e mergulhar apenas a Ponta de mudança de cor por 5 segundos.

Eu já fiz infinitos testes de farmácia. Incontáveis mesmo. E nunca tinha acontecido isso. Mas dizem por aí que pra tudo tem uma primeira vez na vida. Eu comprei dois testes. Se não conseguir controlar a ansiedade até amanhã, farei cedo um novo. Ô fasezinha terrível essa. Quando você acha que está bem, tranquila e confiante esperando o início do próximo ciclo para a FIV, bate aquele desespero, aquela ansiedade. Mas não resta muita opção, a não ser esperar...

terça-feira, 12 de julho de 2016

Maioria das mulheres que faz tratamento de fertilidade engravida dentro de cinco anos

Scientists
July Pluto/Dribbble

Eu assino vários alertas do Google sobre infertilidade e temas correlatos. Entre notícias como "Começa nessa terça-feira 7º curso de inseminação artificial em bovinos, em Palmas" e "Nasce primeiro pinguim do mundo concebido por inseminação artificial", tenho recebido informações muito interessantes, que ajudam a suprir minha necessidade por matérias, estudos e pesquisas da área.

Uma delas foi uma pesquisa apresentada na conferência da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), que aconteceu no início do mês (foi pra esse congresso que meu médico viajou, inclusive) em Helsinque.

Os pesquisadores acompanharam cerca de 20 mil mulheres dinamarquesas passando por tratamento de fertilidade, incluindo fertilização in vitro e inseminação intrauterina. E concluíram que mais de 50% deram à luz até dois anos após o começo do tratamento. Em três anos, 65% das mulheres tiveram filhos, percentual que aumenta para 71% dentro de cinco anos.

Os estudos mostram também que a taxa de sucesso de gravidez está totalmente ligada à idade da mulher. Enquanto 80% de mulheres com menos de 35 anos tiveram filhos dentro de cinco anos, o percentual para aquelas com idades entre 35 e 40 foi de 60%. Já entre as mulheres acima dos 40 anos, apenas 26% tiveram filhos em cinco anos após o início dos tratamentos.

Do total das mulheres acompanhadas em cinco anos, 57% engravidaram em função de tratamentos, enquanto 14% conceberam naturalmente, o que indica que alguns casais apenas precisam de um pouco mais de tempo que a média para conseguir uma gravidez natural.

Segundo os pesquisadores, esse resultado vai permitir aos médicos traçar um prognóstico mais real das chances de um casal ter um bebê. Segundo Sara Malchau, autora da pesquisa do Hospital Universitário de Copenhague, "passar por um tratamento de fertilidade pode ser como um passar por um labirinto para os casais, por isso é importante que eles tenham informações sobre os possíveis resultados no longo prazo".

Ela também diz que a pesquisa reforça a importância da idade da mulher para o tratamento de fertilidade: "A mensagem é: não espere demais".

O link para a matéria, publicada no The Guardian, está aqui (em inglês).

Vale ressaltar que o estudo foi conduzido na Dinamarca, um país onde há muito mais apoio do estado aos tratamentos de fertilidade. Nem sei direito como funciona lá, mas já ouvi falar que o governo paga todos os procedimentos, quantos forem necessários. Se alguém souber mais e puder compartilhar, adoraria saber. De todo modo, me parece uma pesquisa válida pelo número expressivo de mulheres acompanhadas.

Há dois percentuais que me animam um pouco: o de que 71% das mulheres engravidam em cinco anos e de que 80% das mulheres com menos de 35 anos tiveram filhos nesse período. Ou seja: aos 33 anos e tentando há quase quatro anos, com quatro FIVs frustradas no currículo, ainda posso acreditar nas minhas chances. Tem também a informação de que 14% engravidaram naturalmente nesse período, o que alimenta uma pontinha de esperança, mas é só uma pontinha...

E se tem uma coisa pela qual sou grata é à ciência e ao desenvolvimento de tecnologias médicas, que permitem coisas incríveis e que estão ajudando tantas mulheres em todo o mundo a serem mães. Por isso nem estou reclamando muito por meu médico ainda não ter dado sinal de vida depois de voltar do congresso. Fico feliz pela oportunidade de ser acompanhada por um especialista que está se atualizando junto a um time de pessoas de vários países empenhadas em estudar a reprodução humana. Espero até o fim dessa semana voltar com novidades sobre meu próximo tratamento. A menstruação está prevista para sexta ou sábado.

Para quem quiser ler mais sobre o tema infertilidade, o blog da ESHRE tem alguns artigos muito interessantes (em inglês).

domingo, 10 de julho de 2016

"Quando você tiver filho, a gente conversa"

Essa semana ouvi essa frase. Se tivesse sido a primeira vez que essa pessoa tivesse me dito isso, teria achado ok. Mas foi, sei lá, a quarta ou a quinta. E fiquei com raiva, gente. Com raiva como não gostaria de ter ficado, mas foi como reagi. Ouvir aquilo estragou o meu dia.

O fato em discussão que a motivou a falar isso pra mim era quase público, não era nada sobre o filho ou a família dela, sobre quem nunca opino nada. Tenho mesmo o maior cuidado para não emitir opiniões que não me cabem e me esforço sempre para não julgar o diferente. Mas acredito que sou apta a opinar sobre assuntos que envolvem maternidade e paternidade, apesar de não ser mãe.

Nossas opiniões podem ser diferentes, mas por favor não venha desqualificar o que eu penso somente porque você tem filho e eu não. Provavelmente, quando eu for mãe, vou continuar discordando de você, porque meus princípios são bem distintos dos seus. É isso que faz com que você não goste da minha opinião.

Claro que, por ser uma mulher que tenta engravidar sem sucesso há quase quatro anos, fico mais abalada quando escuto uma frase dessas. Mas acho que uma mulher que não quer ter filhos também não deve achar super legal.

E, de fato, tem muitas coisas que não sei sobre o que é ser mãe, não sei como é sentir enjoos, não sei como é entrar em trabalho de parto, como é um parto, como é voltar pra casa com um bebê tão pequeno, não conseguir dormir para amamentá-lo, não sei como é amamentar, viver em permanente estado de alerta de preocupação com a criança, sentir esse amor maior que a vida, entrei muitas outras coisas que quero tanto aprender. Dói quando alguém me diminui por eu não ter passado por nada disso.

Por um mundo com um pouco mais de empatia e sensibilidade.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Especialistas defendem que meninas de 9 anos sejam informadas sobre relógio biológico

Li hoje uma notícia sobre especialistas ingleses que defendem que meninas de 9 anos sejam informadas sobre seus relógios biológicos, que traduzo livremente abaixo.

-------
O diretor da Sociedade Britânica de Fertilidade (BFS) e professor da universidade de Leeds, Adam Balen, acredita que as crianças devem aprender desde cedo sobre fertilidade.

"É algo que temos discutido muito na BFS. Há preocupações de que isso possa diluir a mensagem de que adolescentes devem evitar engravidar e ainda temos que alertar sobre doenças sexualmente transmissíveis, mas também precisamos garantir que jovens tenham uma melhor compreensão sobre a fertilidade", afirmou Balen à Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia".

Uma pesquisa da BFS feita no início deste ano descobriu que 4 entre 5 jovens com idades entre 16 e 24 anos erroneamente achavam que a fertilidade feminina só começava a cair após os 35 anos. Na realidade, esse declínio pode começar antes mesmo dos 30 para algumas mulheres.

Balen acredita que as meninas precisam aprender cedo sobre a importância da alimentação saudável, de se exercitar e de não fumar para garantir que seus corpos mantenham-se em forma para engravidar.

"Precisamos passar essa mensagem cedo e consistentemente para que os hábitos sejam corretos desde o começo. Eu não acho que as adolescentes se exercitem o suficiente, por exemplo", ele disse. "Precisamos criar oportunidades de ter essas conversas. Deveríamos começar na pré-puberdade, por volta de 9 e 10 anos, quando elas já são maduras o suficiente para entender essas questões."

Mas nem todos concordam e outros especialistas argumentam que 9 anos pode ser muito cedo para se ter uma discussão sobre começar uma família.

Norman Weels, do Family Education Trust, disse que "Há sem dúvidas uma hora e um local para comunicar a mensagem sobre a queda da fertilidade feminina e sobre o fato de que a maternidade não pode ser adiada indefinidamente. Mas a maioria dos pais acham que esse momento não é antes da puberdade e em uma sala de aula de uma escola primária". 
---------

Eu não sei se 9 anos é ou não a idade correta. Mas o que sei é que esse tema precisa, sim, urgentemente, entrar na agenda educacional e na agenda do mundo. Não dá para as mulheres (e os homens também) ficarem achando que só depois dos 35 - ou dos 40, como muita gente pensa - é que pode haver dificuldade. Não dá para uma mulher ir ao ginecologista e não ser informada sobre infertilidade. Não dá para o mundo ficar te cobrando um filho, te fazendo perguntas inconvenientes, te pressionando dia após dia.

Fala-se tanto em empoderamento atualmente, mas ainda falta muito para empoderar a mulher que não consegue engravidar. Não conseguir ser mãe não é uma possibilidade que exista na sociedade. Fertilização in vitro é só coisa de artista que aparece na Caras - que, assim como muitos veículos de comunicação, insiste em chamar o procedimento de inseminação artificial, como se fosse a mesma coisa.

Só que não é a mesma coisa. E as pessoas precisam saber disso. Disso e de mais um montão de coisas ligadas à reprodução feminina.

Um adendo: resolvi editar o post só para deixar claro que acredito que o empoderamento deva acontecer para que a mulher possa tomar a decisão que ela escolher. Eu aqui falo sempre do meu lugar, que é de uma mulher que quer ser mãe e que não consegue engravidar. Lamento muito - e vou morrer lamentando - não ter sido informada de possíveis dificuldades com mais clareza, não ter sabido mais cedo do meu problema ovariano, não ter podido pensar na possibilidade de começar a tentar antes dos 30. Mas acredito muito que lugar de mulher é onde ela quiser e sou contra a ditadura de que só é feliz e pleno quem tem filho!

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Indiana faz FIV e dá à luz aos 72 anos


Não sei se viram essa notícia sobre uma indiana que deu à luz aos 72 anos. Isso mesmo: 20 anos depois de entrar na menopausa ela conseguiu engravidar por meio de uma fertilização in vitro com um embrião gerado a partir de óvulo e espermatozoide doados. 


A matéria diz que ela sofreu três abortos, entrou em depressão e nunca achou que seria mãe, até que ouviu falar pela primeira vez em FIV. O médico relutou por conta da idade, mas acabou fazendo o tratamento e o bebê, que se chama Arman, nasceu em abril deste ano pesando dois quilos. Inclusive a história circulou na época, pelo que vi, mas só fiquei sabendo nesse fim de semana agora.

Claro, choveram comentários negativos na matéria. Muita gente criticando o absurdo que é uma "velha" engravidar, que o filho vai ficar órfão muito cedo, que é um nojo ela estar amamentando (sim! ela está amamentando), que deveriam entregar o bebê para adoção, só para citar alguns menos ofensivos.

Eu tenho mixed feelings sobre o assunto. No Brasil talvez ela não pudesse ter feito uma FIV, pois por aqui o limite de idade recomendado é de 50 anos, segundo o Conselho Federal de Medicina - a não ser que assumisse, junto com o médico, os riscos de uma gravidez tardia. Uma gravidez de uma mulher com mais de 70 anos implica muitos mais riscos de complicações para a mãe e para o bebê. E me pergunto até onde corrê-los não é uma demonstração de egoísmo. Mas aí vejo a carinha de felicidade dos pais segurando o filho no colo...

A família indiana, agora aumentada com um menino

E só consigo pensar no sofrimento que essa mulher passou durante toda a vida, sonhando em ser mãe, talvez sem acesso a informação ou recursos para fazer uma FIV um pouco mais cedo, enfrentando um processo depressivo, superando perdas dos abortos... Como ela e o marido devem estar felizes e realizados. Foi impossível não me emocionar. Desejo que tenham saúde para cuidar desse pequeno, que vai crescer cercado de tanto amor. E que a gente possa sempre aprender a enxergar o amor antes de qualquer julgamento.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Step by step

Já dizia meu último médico, taxa de sucesso de FIV é bebê no colo. Não foi à toa que o título do post do início do ciclo foi "esse é só o começo". Porque era mesmo apenas o início, o primeiro dos muitos passos que uma mulher que faz tratamento para engravidar precisa enfrentar. E isso só torna a coisa mais assustadora: não tem planejamento possível, não tem certeza nenhuma, é um dia de cada vez mesmo, torcendo para que as probabilidades estejam a nosso favor.

Dessa vez, não estavam, e o ciclo foi interrompido. Meu segundo ciclo interrompido desde que comecei a saga das FIVs.  Se é para vermos o lado bom das coisas, ao menos esse foi interrompido após apenas quatro dias de medicação, enquanto, no outro, o médico disse para parar tudo depois de oito dias de estímulo. Ou seja: às vésperas da punção, quando as expectativas estavam ainda mais nas alturas. Além disso, pensando pragmaticamente, foi menos dinheiro gasto. Gasto não, investido, porque, mesmo que não tenha dado certo esse estímulo, foi importante para o médico ver como meu corpo se comportou com o protocolo e doses de remédio que ele prescreveu.

Depois da ultra de sábado, quando suspendi toda a medicação, meu médico ligou na segunda-feira com duas propostas:

  1. Fazer um ciclo natural e coletar o óvulo nesse ciclo, sem usar medicação para estímulo. Essa opção me assusta, porque é muito investimento emocional e financeiro para a possibilidade de colher apenas um óvulo, se tanto. A vantagem, segundo ele, é que óvulos em ciclos naturais costumam ter mais qualidade.
  2. Fazer um monitoramento intensivo para avaliar os meus picos de recrutamento de folículos. Ele explicou que a mulher não recruta seus folículos necessariamente ao mesmo tempo. E deu o exemplo da vaca, que é um animal que não menstrua. Na hora fiquei um pouco perturbada com o exemplo e me distraí (estava anotando tudo que ele dizia). Mas depois pensei que é isso aí, somos bichos mesmo, e fui fazer o que? Pesquisar sobre a FIV nas vacas. E era aquilo mesmo que ele explicou: a vaca tem de duas a três ondas de crescimento folicular durante um ciclo. Assim como a mulher pode ter. Essa técnica - que eu não sei se tem nome - consiste em verificar o melhor momento para se tomar a medicação para estimular o crescimento dos óvulos e captar os folículos por meio da punção. Exige um acompanhamento diário por meio de ultrassons.
Então ele pediu que eu continuasse fazendo ultrassons essa semana. Fiz um na terça e outro hoje. O ultrassonografista detectou dois folículos do lado direito de 12 e 7 mm e dois do lado esquerdo de 25 e 20mm, além da presença de líquido livre na pelve, o que geralmente indica ovulação. 

Passei os resultados para o meu médico, que está no exterior em um congresso aprendendo novíssimas técnicas para mulheres com problemas ovarianos, e a avaliação dele foi que, no fim das contas, produzi dois folículos de tamanho bom do lado esquerdo, mas que ele não estava satisfeito para seguirmos com remédios. É que, se o crescimento tivesse sido mais sincrônico, ele poderia ter optado por retomar a medicação.

A recomendação é esperarmos o próximo ciclo para tentar com mais qualidade, iniciando com um protocolo um pouco diferente, somente com comprimidos. Se o recrutamento for bom, incluiremos as injeções. Me parece bastante razoável. O que me deixou satisfeita foi que ele disse: "Vamos ter que pensar em opções diferentes para você". 

Depois de quatro FIVs mal sucedidas e tanto tempo de tentativas, já estava mais do que na hora de alguém concluir que preciso de opções diferentes e não de protocolos pasteurizados que já estão impressos na recepção da clínica. E assim seguimos, um passinho de cada vez, exercitando a paciência, a resiliência, a sapiência...