quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Escorre pelas mãos...

Logo de manhã recebi torpedo da clínica pedindo minha senha para login no site do laboratório. Ainda nem tinha feito o beta: adiei o máximo possível e fui somente na hora do almoço fazê-lo. E ainda demorei a enviar a senha para a clínica, só lá para o fim da tarde é que respondi ao torpedo com as credenciais. Pouco depois, meu telefone toca e era de lá. Passando mal de nervoso, não tive coragem de atender. Por que será que me ligaram tão rápido? Acabei de mandar a senha pra eles, será que já deu tempo de verem o resultado? O que será? Sem saber o que pensar ou fazer, fechei meu laptop no trabalho, coloquei na bolsa e peguei um táxi para casa. A minha porção otimista fez com que não aguentasse chegar e abri o resultado ainda no táxi. Deveria ter esperado Emanuel, para vermos juntos, mas não o fiz. Atordoada, ainda achei que pudesse ter visto errado e, chegando em casa, abri o iPad para ver melhor e vi uma, duas, trezentas vezes. Porém não restava dúvidas. Os nossos vaga-lumes não se mantiveram acesos. Nosso sonho, mais uma vez, escorria pelas mãos. Nenhum dos nossos três embriões implantados nesta última tentativa vingaram. A sensação é de morte, a deles e a nossa. Todas as luzes se apagaram. Quando Emanuel chegou nos abraçamos e sentimos uma dor que é só nossa. Mais uma vez.

Já tem mais de um mês que pegamos o resultado negativo, mas não havia tido coragem - ou vontade ou força... - para escrever o que quer que fosse. Eu perdi a conta de quantos testes de gravidez já fiz desde fevereiro de 2013. Foram inúmeros. Todos muito, muito sofridos. Mas os mais dolorosos foram os de março e setembro de 2015, após nossas duas tentativas de fertilização in vitro. É natural que nestes, com toda a ajuda da ciência, tanto hormônio, tanta medicação, tanto investimento físico e emocional, tanto acompanhamento, nossas expectativas fossem mais altas. E, consequentemente, o sofrimento, a dor, a frustração e a tristeza também aumentam, agravados, é claro, pelo tempo.

Mas não desistimos e não vamos desistir.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

É amanhã - O dia D ou D12

Hoje é o D11, logo, amanhã é o D12, mais conhecido como dia de fazer o exame de sangue que dirá se conseguimos engravidar ou não. Estava com vontade e com um pouco de coragem de comprar um exame de farmácia e fazer logo hoje, mas acabei me acovardando diante da possibilidade de dar negativo. Hoje senti algumas pontadas, um pouco de dor nas costas. No sábado senti um enjoo forte - mas que pode ter sido fome, já que fiquei bastante tempo sem comer - e, no casamento, não tive nenhuma vontade de comer doces, o que pra mim é muito estranho. Ontem, domingo, estava cansada, mas nada demais, porém dormi logo no começo de um filme que começamos a ver, ainda cedo. Não é nada, não é nada... não é nada! Ou pode ser tudo! Amanhã saberemos.

Achei que iria escrever todos os dias nesses doze de espera, mas acabei nem conseguindo o que, por um lado, me alivia, porque significa que, mal ou bem, consegui distrair minha cabeça.

Achei também que hoje estaria inspirada para escrever algo bonito, mas, na verdade, eu só quero que esse feriado acabe e que chegue logo amanhã. Por um lado. Por outro, não quero que acabe nunca e não quero que chegue amanhã, porque dá medo, muito medo. Não há dia mais assustador para pegar o resultado de um exame do que esse D12.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Contando nos dedos

Às vezes, muitas vezes, tenho dificuldade para fazer contas mentalmente, então recorro aos dedos (quando a conta é simples, claro, porque para contas complexas existe o celular!). Desde a última quinta-feira, 27 de agosto, tenho feito contas nos dedos, acho que para ver se ajuda a passar o tempo mais rápido. Hoje queria saber se a implantação já tinha sido há uma semana, mas concluí que foi há seis dias.

Hoje é o D6, como as tentantes gostam de escrever nos blogs. No sexto dia após a implantação, senti, à tarde, sentada na cadeira do trabalho, uma pontada de dor nas costas, meio na lombar. Logo acho que pode ser um sintoma. Mas será que eu não sinto pontadas de dores na lombar normalmente? 

Há três anos que tudo que eu sinto se transforma em um potencial sintoma de gravidez. Boca seca, enjoo, espinhas, dores de cabeça, corrimento de várias cores, seios inchados, dores nas costas, cólicas fora de hora, errar a chave na fechadura, deixar o sabonete cair no chão, sangramento na gengiva, gosto estranho na boca... eu tive tudo isso nos últimos 36 meses. Culpa do Google, que tinha uma resposta para toda e qualquer pegunta, a qualquer hora da madrugada. Eu devo ter lido essa matéria aqui e essa aqui mais de 50 vezes nos últimos três anos: sempre as primeiras a aparecer nas buscas, alimentavam em mim uma esperança vã de que, em um releitura, pudessem apontar um novo sintoma, esse sim decisivo para o positivo! Mas nada disso aconteceu...

E todos os meus sintomas eram fakes, psicológicos ou simplesmente coisas que eu sempre sinto, porém às quais nunca prestei muita atenção. Quem tenta engravidar fica muito mais atento aos sinais do seu corpo - pelo menos comigo tem sido assim. 

Amanhã é o D7. Segundo o Google, mais uma vez ele, muitas mulheres têm um pequeno sangramento no sétimo dias após a implantação dos embriões. É a tal da nidação, sintoma esse que tanto persigo. Já fico na expectativa para ver se amanhã vai acontecer algo - sabendo que, ter sangramento não é garantia de nada e, não tê-lo, tampouco.

O bom do D6 é que faltam seis dias para o dia do teste beta HCG. Amanhã, D7, faltarão cinco. E sigo contando nos dedos, na esperança de que, em breve, já não mais consiga usar minhas mãos para registrar nossas semanas de gravidez.

domingo, 30 de agosto de 2015

Vaga-lumes no estômago

Sabe como as pessoas apaixonadas sentem borboletas no estômago? Pois eu sinto que estou com vaga-lumes. Três pontinhos de luz. Precisamos esperar 12 dias até poder fazer o teste, no dia 8 de setembro, que confirmará ou não a gravidez. Já se passaram quase quatro, e eu só torço para que o tempo passe rápido e nossos pontinhos continuem acesos.

Depois da implantação é curioso. Começo a achar que estou sentindo o útero e a temer que qualquer movimento seja prejudicial. E tem alguns momentos em que até esqueço que estou com três embriões implantados - mas são bem passageiros. A maior parte do dia é só nisso que penso.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Implantação dos embriões

Hoje, dia 27 de agosto de 2015, implantamos nossos três embriões no meu útero. Cinco meses depois, partimos para a nossa segunda tentativa, dessa vez com mais chances porque foram três embriões. Da primeira vez foi somente um. Segundo o médico, temos 50% de chances de conseguir.

O procedimento hoje foi bem parecido com o da primeira vez. Fiz só algumas coisas diferentes. A primeira delas foi pedir uma folga no trabalho. Em março, como o médico havia dito que eu poderia trabalhar normalmente, eu fui. Mas justamente naquele dia precisei ficar até tarde e só saí do trabalho às 22h. Não acredito que tenha sido esse o motivo para a fertilização não dar certo, mas foi estressante, fiquei cheia de culpa e preocupação. Hoje, de folga, fiquei mais tranquila, não tive que sair correndo da clínica e inventar desculpa para a chefe de que estava fazendo vistoria do carro.

Pesquisas indicam que não fazer repouso aumenta as chances de sucesso da FIV. Mas na internet há relatos dos mais diferentes, desde mulheres que repousaram por doze dias, até aquelas que viajaram no mesmo dia. Um post especialmente ficou martelando na minha cabeça: de uma mulher que na primeira FIV não repousou, mas na segunda ficou deitada por alguns dias, e engravidou. Embora lembre sempre desse caso, minha confiança na ciência é maior, então acredito que não haja correlação entre repouso pós FIV e taxa de gravidez.

A implantação não exige jejum, mas é preciso estar com a bexiga cheia. Na primeira vez, acho que deixei para beber água muito em cima da hora e foi preciso ficar esperando a minha bexiga encher. A enfermeira ficava pressionando para ver a bexiga na ultra e eu sentia dor - a punção havia sido somente três dias antes - e muita vontade de fazer xixi. Hoje, às 11h30 eu comprei uma garrafa de água e fui bebendo, 12h30 comprei um suquinho do Bem, que bebi todo. Cheguei à clínica às 13h e quando entrei, umas 14h20, a bexiga já estava cheia - devo ter bebido uns 500ml e a diferença foi ter começado mais cedo a ingestão de líquido.

Na primeira vez, logo após a implantação eu saí correndo para fazer xixi. Eu sei que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, mas hoje preferi esperar para esvaziar a bexiga, também porque estava aguentando. Dá o maior medão de os embriões saírem no xixi, muito embora eu saiba que fisiologicamente não é possível (quer dizer, acho que não). Então hoje eu só fui ao banheiro quase uma hora depois.

O procedimento em si é rápido e indolor. Tudo acontece na cadeira, como numa consulta ginecológica. O marido fica ao lado e o médico faz a preparação com as enfermeiras. Antes entra a embriologista e fala sobre os embriões, quantas células cada um tem, e que não temos mais nenhum congelado. Um cateter fino é inserido no útero e depois, dentro desse, um outro cateter contendo os trés embriões é usado para a implantação. Realmente não dói nada. Acompanhamos tudo pela telinha do ultrassom e vemos quando as gotinhas com os embriões chegam ao útero. É um momento de muita esperança. Torcemos tanto para que dê certo. Agora serão 12 dias de espera até o teste beta HCG. Vou controlar a ansiedade, me alimentar bem e torcer para que finalmente o nosso tão sonhado positivo chegue.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Quando vocês vão se animar?

Vocês não querem ter filhos? Quando vão se animar? Estão demorando muito! Estão casados há quanto tempo? E não pensam ainda em ter filhos? Já podem começar a planejar! A sua irmã já teve filho, agora só falta você! Não é exagero dizer que, nos últimos três anos,  praticamente todos os dias  - em que saí de casa e interagi com pessoas - ouvi alguma das perguntas acima ou variações sobre o mesmo tema. A irmã da ex-mulher do meu sogro, que vi apenas duas vezes na vida. A chefe. A estagiária recém-chegada. A colega de trabalho com quem não tenho muita intimidade. O marido da amiga. A amiga. O amigo do marido. A amiga antiga que não via há anos. O dentista. A dermatologista. A diarista. São apenas algumas das pessoas que me perguntaram quando e se eu não queria ter filhos. E apenas algumas das pessoas com quem eu não queria falar sobre o assunto.

Hoje foi a estagiária nova, que achou que cinco anos já era tempo suficiente de casamento para ter um filho. Ontem foi a dentista, que assumiu que "daqui a pouco eu vou querer ter neném". Anteontem a chefe que perguntou se eu quero ter filhos. No fim de semana, o amigo mexicano de passagem pela cidade que questionou se eu não queria engravidar, já que a maioria das minhas amigas está grávida ou com filhos. Eu estou absolutamente ciente de que ninguém faz por mal. Eu sei mesmo. Mas é que cada pergunta dessa é como uma punhalada no peito. Como um lembrete de que não, eu não consigo engravidar naturalmente, ou pelo menos não consegui ainda em três anos. Um (not so) friendly reminder de que há 36 meses eu vivo tentando, sem sucesso. E dói. Mas você tem que fingir que não dói. E tem que achar graça quando alguém brinca que você está grávida porque passou mal. E tem que sorrir amarelo quando dizem que você está demorando muito, que todo mundo está passando na sua frente. E mentir, responder que "ainda não", que "não temos pressa", que "queremos viajar muito juntos ainda", "que não sabemos". Mentira doída.

Outro dia jantamos com um casal muito querido que vive em São Paulo. Ela está grávida. Eu honestamente já estava preparada para que eles perguntassem: "E vocês? Não estão querendo?" ou alguma outra variação da questão. Minha resposta evasiva de sempre já estava mentalmente ensaiada. Mas eles não falaram nada. Não fizeram nenhum questionamento e eu achei tão respeitoso. Não me senti invadida, não me vi obrigada a mentir, não precisei relembrar como é difícil tentar engravidar e não conseguir. Porque em quase todo evento social é assim: mais cedo ou mais tarde o assunto surge. E mais cedo ou mais tarde a gente inventa um caô, desconversa, se faz de desentendido ou ri amarelo - chorando por dentro.

Passar por dificuldade de engravidar me fez ter muito mais atenção ao que eu falo com os outros, ao que pergunto, ao quanto invado a intimidade deles sem que eles tenham me permitido. Agora sou muito mais cuidadosa porque a verdade é que nunca sabemos o que as pessoas podem estar enfrentando. Eu desejo muito que a infertilidade deixe de ser um tabu e que eu possa falar, se eu quiser: "Poxa, ter filhos é o nosso maior sonho, mas não conseguimos engravidar. Há três anos que tentamos. Já fizemos uma fertilização in vitro, que não deu certo, e foi o pior dia de nossas vidas quando pegamos o resultado negativo. Depois de muitas doses de remédio e um longo tratamento, conseguimos três embriões. Amanhã eles serão implantados. É mentira que eu preciso ir ao dentista".

Mas também desejo que as pessoas se coloquem mais no lugar do outro e lembrem que a maternidade é uma escolha estritamente pessoal ou do casal. E que saibam que existe ao menos uma categoria de pessoas que pode não querer falar com você sobre seus planos para a maternidade. Quem não consegue engravidar já lida com muitas questões para precisar dar satisfação para quem quer que seja. Pense nisso na próxima vez.

sábado, 22 de agosto de 2015

Ninguém me avisou

Quando eu era adolescente, dizia sempre que teria meu primeiro filho aos 27 anos, e que depois teria mais dois. Três no total. Esse era um assunto frequente entre amigas e eu já tinha os meus planos traçados. Sequer pensava se precisaria encontrar um marido ou parceiro para isso: tinha certeza de que teria meus três filhos, começando aos 27 anos. Só que ninguém nunca me falou que eu talvez não conseguisse. Que talvez eu não pudesse. Que talvez eu tivesse problemas de fertilidade. Que talvez eu fosse passar mais de três anos tentando engravidar. Que talvez fosse preciso economizar para fazer um tratamento caríssimo.  Que talvez eu tivesse que fazer exames dos quais ninguém nunca ouviu falar, tomar mais de 60 injeções e uma série de remédios diariamente. Eu não fui preparada para essa possibilidade. Nem eu e nem nenhuma outra mulher.

Minha primeira ida à ginecologista foi aos 16 anos. Muito jovem para que a questão fosse abordada, concordo. Mas, desde os 18 anos, passei a fazer as consultas anuais recomendadas. Tive médicas diferentes e nunca nenhuma delas nunca me perguntou se engravidar era algo que estava em meus planos. Nunca. Ouso generalizar aqui, mas acredito que o mesmo deva acontecer com a maioria das mulheres, pelo menos no Brasil.

A possibilidade de infertilidade parece ser um tabu até mesmo nos consultórios médicos. E olha que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a infertilidade atinge de 8% a 15% de casais no mundo. Não é um índice desprezível a ponto de ser assim tão ignorado.

Eu conheci meu marido aos 25 anos e nos casamos quando eu tinha 27 anos. Os tais 27 anos dos meus planos de adolescência. Mas não tivemos pressa. Nunca nos disseram que poderia ser difícil. E assim nos deparamos, no susto, na marra, com um diagnóstico de infertilidade sem causa aparente, aos 30 anos.

Não significa, claro, que, com aviso prévio, a gravidez viria com mais facilidade. Mas ao menos teríamos mais preparo para lidar com a situação e mais entendimento para tomar algumas decisões. Eu gostaria, sim, que uma médica tivesse me perguntando: "Você já ouviu falar em infertilidade?", "Você gostaria de ter filhos?", "Você gostaria de fazer exames que podem ajudar a diagnosticar a sua capacidade de ter filhos?". Gostaria, ao menos, de ter tido a oportunidade de pensar sobre esse assunto.

Talvez, no meu caso, e somente no meu caso, as tentativas pudessem ter começado aos 27 anos e não aos 30, o que poderia aumentar as minhas chances por conta da idade. Sem garantias, eu sei. Hoje, após três anos de tentativa, essa questão já não me aflige tanto, afinal, não adianta mais pensar no que não pode ser mudado. Mas eu acredito que precisamos falar sobre a infertilidade. Os médicos precisam falar sobre infertilidade. A mídia precisa falar sobre infertilidade. As pessoas precisam falar sobre infertilidade. Mulheres e homens, transgêneros, casais heterossexuais e homossexuais, todos têm direito de saber mais sobre isso.

Essa matéria do Buzzfeed, em inglês, lista 22 coisas que todo casal cisgênero deveria saber sobre fertilidade. Aqui, uma lista com 20 itens para casais transgêneros.