quarta-feira, 27 de abril de 2016

De onde vem a calma?


Saltar de paraquedas. Ser trancada em um quarto lotado de morcegos, cobras, ratos, sapos e besouros de casca dura que fazem barulho quando batem na parede. Uma montanha russa em queda livre. Ser largada em alto mar. Ficar presa em um elevador lotado no 20o andar de um prédio. Perder o meu passaporte. Ser arremessada contra a janela numa curva num ônibus guiado pelos motoristas loucos do Rio de Janeiro. Me perder em uma floresta fria e escura. Dirigir sozinha à noite em um lugar desconhecido. Ficar num barco à deriva em um mar com tubarões.

Poderia continuar esse exercício de imaginação por horas. Mas nada, nada, nada me dá mais medo, tensão e pânico do que o dia do Beta hCG. Um dia tão ansiado, que parecia tão longe, mas que, agora que chegou, eu quero que continue se afastando. É paradoxal, eu sei, mas é que dá tanto medo de enfrentá-lo. Como aquela prova da escola na qual você não sabe direito como se saiu e fica torcendo pro professor demorar a entregá-la. Mas não tem jeito: uma hora ela será entregue e você saberá a sua nota.

Nas outras vezes eu acabei não comprando, mas cogitei fazer um teste de farmácia antes do dia do Beta. Nessa quarta FIV e terceira implantação, é tanto medo que isso sequer passou pela minha cabeça. Jamais teria coragem de fazer um exame de farmácia. Estou sem coragem de ir amanhã fazer o Beta. Quer dizer, o problema não é fazer o exame, porque tive que aprender dizer adeus à minha fobia de agulhas, mas pegar o resultado. Entrar no celular, digitar o código e senha e ver aquele verdinho indicando que está pronto. Só de imaginar me dá frio na barriga. Eu não quero mais um negativo.

Dessa vez não terei coragem de olhar. Vou pedir que o marido o faça.

Nesse D12 (ou D11, se considerar o dia da transferência como o D0) o que senti de diferente:

  • Azia na hora de comer. Almoço foi escondidinho de batata doce com carne moída, cenoura, couve-flor e vagem e suco de abacaxi. Não costumo ter azia, mas pode ter sido alguns desses alimentos ou a reação de alguns dos remédios. São tantos que já nem sei mais qual pode causar o quê.
  • Umas pontadas de dores nas costas. Mas pode ter sido porque dormi mal, porque trabalho sentada muitas horas, porque dirijo no mínimo duas horas por dia.
  • Quando cheguei em casa do trabalho medi a temperatura e estava 37.0 graus. Achei elevada, mas sei que não foi tirada nas condições ideias, após o sono, em repouso. Foi depois de todo um dia de trabalho - passado todo ele no ar-condicionado e depois mais ar-condicionado no carro, por isso achei um pouquinho alto. Mas vai saber, né...
  • Seios levemente enrijecidos, mas não doloridos. O que pode ser pura e simplesmente efeito de toda progesterona e estrogênio que meu corpo está absorvendo pelos remédios.
Só me resta tentar manter a calma e fazer o teste, como esse pôster de Keep Calm (ninguém aguenta mais, eu sei) que achei me sugere. 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Aponta pra fé e rema


Toda segunda-feira a gente faz tudo igual: tem reunião de equipe, a chefe fala, faz alinhamentos, a gente faz pergunta, depois cada um fala, apresenta projetos, os outros fazem pergunta. Há um ano e sete meses, desde que mudei - quase radicalmente - de emprego, essa tem sido a rotina de todo início de semana. Mas ontem a reunião foi diferente. Quase no fim, uma colega anunciou a gravidez. Que alegria! Abraços, sorrisos, "é menino ou menina?", "mas eu nem desconfiei", "você nem está barriguda". Um momento genuinamente feliz num ambiente às vezes duro e frio, muitas vezes corrido, que é uma empresa.

E eu fico genuinamente feliz mesmo. Mas momentos como esses também são difíceis para alguém que tenta engravidar há tanto tempo. É um paradoxo difícil de traduzir, que só quem passa por isso é capaz de entender. Porque há anos sonho com o dia em que vamos contar para nossos pais, irmãos e familiares que conseguimos engravidar, imagino como darei a notícia para minhas amigas, penso em como farei para esconder a gravidez nos três primeiros meses no trabalho e como será quando eu finalmente revelar a gestação. Consigo até sentir o meu alívio quando puder contar para todo mundo o sofrimento que enfrentamos, os exames invasivos que tive que fazer, a medicação sem fim que tomei, os processos dolorosos física e emocionalmente que tivemos que encarar.

Quando eu puder falar que não, não é só a mulher com mais de 38 anos que pode ter dificuldade para engravidar, que mulheres mais jovens também podem passar por isso. Que a mulher deve falar com sua ginecologista sobre ter filhos e ser informada sobre infertilidade feminina e masculina. O homem também. E casais homossexuais e transgêneros. Eu já escrevi sobre isso no primeiro post que fiz pra esse blog.

Às vezes me dá uma canseira e uma vontade de falar. "O exame que eu precisei fazer hoje foi, na verdade, uma coleta de óvulos para fertilização in vitro". "Não vou levar o computador pra casa porque não posso carregar peso". "Na quinta-feira vou sair mais cedo pra almoçar porque preciso fazer um exame Beta HCG para saber se estou grávida". Mas se o mercado de trabalho ainda não está totalmente preparado para grávidas e mães, imagina para aspirantes a gestantes... Enfim, desabafos.

Neste D11, os sintomas não mudaram, continuam super leves: cólicas fracas e intermitentes, pontadas de dor de cabeça, muuuuito sono. Senti às vezes um pouco de tontura (não sei se pode ser coisa da minha cabeça) e ontem marido achou que eu estava muito quente. Nem dei bola, mas hoje eu achei também e acabei de ver que minha temperatura está 36.8. Não sei se isso pode significar alguma coisa. Sigo tomando a medicação diária e procurando me alimentar bem - hoje foi a única vez que tomei café nos últimos doze dias, o que pra mim é uma baita conquista! Apontando pra fé e remando...

Arte de Alex Dukal

domingo, 24 de abril de 2016

A medicação pós-transferência

Dois dias antes da transferência, comecei mais uma série de medicações. Vale ressaltar que eu nunca usei nada sem recomendação médica, nem mesmo um chá mais inocente. Tenho medo e acho que todos esses remédios contêm muitos hormônios e substâncias com as quais não dá pra ficar brincando, não. Às vezes vejo relatos de meninas em blogs que tomaram uma ou outra coisa por conta própria e só queria ressaltar que acho isso super perigoso. Se seu médico não dá abertura ou confiança para você perguntar ou até mesmo sugerir, talvez seja o caso de buscar um outro profissional, com quem se sinta mais segura. É muito desgaste - emocional, físico e financeiro - e o mínimo que uma tentante merece é se sentir segura com o profissional que a acompanha no processo de FIV. É triste ver que nem sempre isso acontece e que há profissionais que deixam a desejar...

Mas, voltando à medicação, receitada para mim, com base nos meus problemas específicos, são essas:
  • Utrogestan: 3 vezes ao dia. Quem já usou sabe como é desagradável, especialmente a hora de colocar no trabalho, mas faz parte... Esse remédio é progesterona e seu objetivo é fazer com que o útero não contraia, evitando riscos de abortos.
  • Ácido fólico e vitamina D: uma vez ao dia.
  • Oestrogel: gel de estrogênio, duas vezes ao dia. Objetivo é ajudar a engrossar o endométrio.
  • Somalgin-cardio: um comprimido à noite, faz parte do tratamento contra a trombofilia.
  • Heparina: uma injeção à noite. Também é parte do tratamento contra a trombofilia. É a hora mais chata de todas: a agulha do remédio é bem grossa, a injeção dói e minha barriga está toda marcada. E cada vez mais dura, o que dificulta fazer dobras de gordura para aplicar a injeção. Mas eu torço muito para que essa medicação contra a trombofilia contribua para o sucesso da implantação do nosso embrião.
Nas nossas duas implantações anteriores, a medicação pós-transferência limitou-se ao utrogestan, ácido fólico e vitamina D (na primeira nem teve vitamina D). Ou seja: dessa vez estamos tentando algumas coisas diferentes, o que aumenta bastante minhas esperanças... agora é encontrar forças para começar essa semana. O medo da quinta-feira, dia do beta, já está começando a bater forte.

Sobre os sintomas, continuo sentindo uma espécie de cólica de vez em quando, muito, muito sono, tive umas pontadas de dor de cabeça... Mas também é tanto remédio que estou tomando que tudo isso pode ser efeito colateral. Não tem jeito, só me resta esperar...

sexta-feira, 22 de abril de 2016

D7: à procura dos sintomas perfeitos

Eu jurei para mim mesma que não ia surtar e ficar procurando saber os sintomas de todas mulheres que já fizeram uma transferência embrionária no Brasil e no mundo. Juro, eu já perdi muitas horas de sono lendo comunidades e mais comunidades do BabyCenter, e eu prometi pra mim que não continuaria com isso, porque, no fim das contas, não ajudava tanto. Mas, nada como uma nova FIV e uma nova implantação para eu me pegar, de novo, frenética do Google:


É porque é muito estranho você ter a plena certeza de que pode estar grávida - afinal eu fiz uma FIV e sei que um embrião foi implantado - mas não ter como saber se realmente está ou não. Então qualquer coisinha que você sinta se torna um possível sintoma de um positivo. Já estive nessa situação inúmeras vezes, pelo menos 43, dos últimos ciclos de tentativas, e queria ser evoluída o suficiente para não me colocar de novo nessa posição, mas, infelizmente, eu não sou.

Dessa vez, o que acho que estou sentindo (digo acho porque, das outras vezes, eu senti algumas coisas e nenhuma delas se provou como um sintoma, já que nunca tive um positivo):

  • Cólicas: são fracas, são intermitentes, não se parecem com cólicas menstruais, às vezes vêm como pequenas pontadas.

  • Sono: há cerca de um mês que meu horário de trabalho mudou e eu passei a sair de casa às 6h30, então, por um lado, acho que o sono é normal. Por outro, tem horas que parece que tô mais sonolenta que o normal (tipo agora, escrevendo nesse feriado, bocejei mil vezes).
  • Barriga inchada/dura: já falei que possivelmente é um efeito da injeção de heparina que estou tomando toda noite. Tá tão inchado que daqui a pouco não consigo mais uma dobra de gordura para a injeção ser aplicada.
  • Coceira: também pode ser um efeito da progesterona que estou usando de oito em oito horas.
E assim passam-se as horas do dia (quando é feriado, né, porque durante o trabalho não sobra tempo pra pesquisar - embora não vá negar que já tenho ido pro banheiro com o celular só para dar um Google em algum sintoma recém-sentido). Eu sei, eu sei, sei mesmo, que não adianta ficar um busca dos sintomas perfeitos, que cada corpo é um corpo e cada mulher sente de uma forma. Eu sei, mas às vezes esqueço... será isso um sintoma?

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Embrião implantado no D2 com duas células e classificação C

Até que estou otimista nesse ciclo de FIV, considerando que sou eu e que é nosso 43o ciclo de tentativas, o quarto com tratamento de fertilização. Mas a classificação do nosso embrião, sua quantidade de células e o dia em que ele foi implantado nos deixam com muito medo. No dia da implantação, ficamos sabendo que nosso embrião era de classificação C, com 30% de fragmentação.

O embriologista fez questão de dizer que não era pra gente desanimar, que há casos de implantações bem-sucedidas com embriões C. Mas a realidade é que a taxa de sucesso de gravidez é menor nos embriões C do que nos A e B. A classificação é feita da seguinte forma, levando em consideração aspectos morfológicos do embrião:

  • Embrião A: possui menos de 10% de fragmentação;
  • Embrião B: tem entre 10% a 25% de fragmentação;
  • Embrião C: entre 25% e 50% de fragmentação;
  • Embrião D: acima de 50% de fragmentação.
Os fragmentos são pedaços de citoplasma que são excluídos da célula. E a taxa de fragmentação está associada ao sucesso da taxa de gestação, embora um embrião top A não seja garantia de gravidez.

O embrião também é classificado pela evolução do número de células. É esperado que:
  • Embriões com dois dias de desenvolvimento (D2) tenham de 2 a 4 células;
  • Embriões D3 > de 6 a 8 células;
  • Os blastocistos (embriões a partir do 5o dia) são avaliados de forma diferente. 
Nosso embrião, além de classificação C e 30% de fragmentação, encontrava-se com duas células em seu segundo dia de desenvolvimento (D2). Só duas células! Muito doido pensar que é o que basta para dar origem a uma vida.

Nas três FIVs que fizemos anteriormente conseguimos obter embriões de melhor qualidade, todos no terceiro dia de desenvolvimento (D3).
  • 9 células - classificação B (ou II)
  • 8 células - classificação A (I 1⁄2)
  • 9 células - classificação B (II)
  • 5 células - classificação B (II)
E, apesar de os embriões serem considerados melhores e apresentarem mais chance estatística de gravidez, não deu certo. Procurei bastante, mas não encontrei relatos de gravidez com implantação de embrião como o nosso (D2, classificação C e duas células) em sites e blogs brasileiros. Mas vi alguns relatos em sites americanos e ingleses, inclusive de mulheres que implantaram dois embriões D2 com duas células e tiveram gêmeos - ou seja, os dois embriões vingaram!

Então pode dar certo: existem casos que comprovam, lá na clínica mesmo, como o médico e o embriologista me contaram. Tento me apegar a isso para olhar para o copo meio cheio: focar nos 30% de chance de dar certo e não nos 70% de não funcionar. É um exercício difícil e diário (a cada minuto, diria), mas tenho que tentar.

Hoje é o D5 pós implantação embrionária. Senti algumas pontadas de cólicas, nada muito doloroso, mas uma lembrança de que meu útero existe, sabe? Em dois momentos do dia me deu um pouco de tontura, mas tava sentada. E dirigi por muitas horas para ir e voltar do trabalho, preocupada de que a posição não seja favorável. Se pudesse, passaria os dias de cabeça para baixo.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

D3 após a transferência do embrião e mutação do gene MTHFR A1298C heterozigoto

Nunca sei direito como fazer essas contagens. A transferência foi no sábado: devo considerar sábado o D1 ou D0? Como nunca ouvi falar muito em D0, vou assumir que sábado foi o D1 e, assim sendo, hoje é o D3 pós transferência.

Provavelmente estou ficando louca, mas como desde sábado presto atenção em cada mínima coisa que acontece com meu corpo, já acho que podem ser sintomas. De vez em quando sinto umas pontadas na barriga, hoje senti uma coisa bem estranha, como se fosse um calor interno na área do útero, estou bastante cansada (o que provavelmente tem mais a ver com o fato de que dormi pouco) e estou com a barriga bem dura.

Isso eu atribuo à medicação que estou tomando desde sábado. Em janeiro, o médico novo descobriu que eu tenho a mutação do gene MTHFR - A1298C heterozigoto. Ainda não consigo entender muito bem as causas e consequências disso, mas entendi que o meu tipo de mutação é o que pode causar menos impacto a uma possível gravidez. Mas, ainda assim, pode haver impactos, tais como: aborto e pré-eclâmpsia. Há dois outros tipos de mutação da MTHFR que colocam a mulher e o bebê mais em risco: há aumento de incidência de Síndrome de Down.

Não há um consenso na literatura médica sobre como proceder quando mulheres com a mutação do gene MTHFR - A1298C heterozigoto fazem tratamentos de fertilidade. Mas há autores que consideram que qualquer mutação no gene MTHFR torna a mulher portadora de trombofilia e, portanto, candidata ao uso de anticoagulantes durante a gravidez.

Tudo isso para dizer que eu estou tomando anticoagulantes - como eu já fiz duas implantações embrionárias sem sucesso, o médico acha que não custa se cercar por esse lado também e fazer o uso da medicação preventivamente. Eu não poderia concordar mais - na clínica anterior, durante os três processos de FIV, não me pediram esse exame e nem levantaram essa hipótese. Então, se posso fazer algo diferente, que talvez previna um aborto precoce e contribua para a implantação do embrião, eu tô dentro!

Eu, que achava que estavam encerradas as sessões de injeções, continuo tomando uma injeção por noite mais um comprimido. Seguirei assim por 14 dias até fazer o Beta e, se tudo der certo, continuarei tomando, feliz da vida, as injeções nas 14 primeiras semanas de gravidez.

sábado, 16 de abril de 2016

Transferência do nosso embrião

Acordei umas 7h30 e, como recomendando pelo médico fiz xixi. Depois tomei café e não fui mais ao banheiro - às 9h saímos para a clínica, pois a transferência estava marcada para as 10h30. Já cheguei lá apertada para ir ao banheiro, mas aida esperei por quase duas horas até ter início a transferência. E ainda continuei bebendo água porque não dá pra ter certeza que a bexiga estará cheia - na 1a transferência tive que ficar esperando que enchesse, o que não foi muito agradável.

Quando enfim entrei na sala (o mesmo centro cirúrgico onde fiz a punção na quinta) a bexiga já estava bem cheia - isso é necessário para guiar a ultrassonografia e deixar o útero bem visível para a implantação.

O nosso médico quebrou o dedo e não pôde fazer a transferência, mas ele ficou fazendo o ultrassom e guiando a médica e o biomédico/embriologista. Toda a equipe bem simpática e alto astral, diga-se de passagem, diferente da clínica anterior, onde todo mundo era mais sério.

O embriologista veio falar conosco sobre o embrião: ele evoluiu, mas estava apenas com duas células e com 30% de fragmentação. Um embrião de qualidade C. Diante das nossas caras frustradas, ele tratou de explicar que isso não quer dizer que não possa dar certo e contou de alguns casos parecidos para nos confortar. Não é o melhor cenário, claro, mas é o que temos, então vamos confiar o nosso embrião filho único nota C.

Então teve início a transferência, feita da mesma forma que as anteriores. Dói um pouco quando está sendo feito o preparo e especialmente quando o aparelho de ultrassom é pressionado na barriga. Mas é tudo suportável. Primeiro é inserido um cateter e, depois, um cateter mais fino que contém o embrião. O embriologista fez a transferência, vimos o pontinho de luz sendo depositado no útero, mas ele precisa voltar para o laboratório para checar se o embrião saiu do cateter e... não tinha saído! Foi necessário colocá-lo novamente em meio de cultura e passar uma segunda vez o cateter. Aí sim ele ficou! Isso foi novidade pra gente, mas espero que dê sorte!

Assim que acabou, o embriologista continuou conversando com a gente e eu fiquei 15 minutos deitada na cadeira do procedimento - na clínica anterior eu levantava logo depois que acabava. Fui direto fazer xixi, morrendo de medo porque, por mais que eu saiba que não é possível, eu tenho medo de o embrião sair no xixi. Tenho, pronto, falei.

Ainda fiquei deitada por mais uns 20 minutos esperando a liberação com a recomendação de hoje ficar quietinha em casa e, a partir de amanhã, vida normal pegando leve - academia está vetada, por exemplo. Mas tudo bem. Estou com meu vaga-lume implantado, meu único pontinho de luz, torcendo demais para que dessa vez dê certo, me apegando aos percentuais positvos, que não são altos, mas existem.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Punção e fertilização

Não consegui escrever ontem porque só tive sono o dia inteiro. A punção estava marcada para as 10h de quinta-feira e chegamos lá às 9h, como pedido pela clínica. Lá pelas 9h30 fomos chamados para dar início à preparação: terminar de assinar a papelada que faltava, colocar camisola, touca, protetor de pé e ficar aguardando na enfermaria. A enfermeira trouxe um controle remoto para a TV - "para distrair", ela disse - mas eu só queria entrar logo no centro cirúrgico.

Como de praxe o anestesista veio fazer as perguntas de sempre (peso, altura, alergia a remédios etc). Ele chegou dizendo que veio explicar como seria, porque os casais sempre ficam nervosos, mas quando falei que era a nossa quarta punção, ele até parou de falar.

Finalmente entrei sozinha no centro cirúrgico. O anestesista ficou puxando papo, falando amenidades, naquela tentativa de me acalmar e, como aconteceu também nas outras vezes, apaguei quando ouvi ele falando "daqui a pouco você vai sentir sono". Acordei com as vozes falando que tinha acabado e fui levada de maca pra enfermaria. Foi servido aquele lanchinho básico (suco de caixinha, biscoito maria, biscoito cream cracker, geleia, polenguinho) e eu comi tudo - antes de começar eu estava com muita fome - e bebi quatro copos de água - sempre fico com muita sede.

Enquanto eu fazia a punção, o marido foi fazer a coleta. Quando eu ainda estava muito sonada, o médico que fez o procedimento avisou que havia aspirado três folículos, mas que somente um tinha óvulo. Se três já era pouco, imagina um óvulo só. Fiquei triste, mas, quando já estava quase indo embora da clínica, a embriologista falou comigo que esse óvulo estava maduro!!! Fiquei mais feliz, mas comemorando uma notícia de cada vez. Porque ainda precisávamos aguardar que esse óvulo fosse fertilizado.

Hoje cedo mandei um whatsapp pro médico pedindo notícias sobre a fertilização e, por volta das 11h, a embriologista me ligou para dar a boa nova do dia: o óvulo foi fertilizado direitinho e temos um embrião! É só um, mas está tudo bem com ele, é o nosso embriãozinho, que será implantado amanhã.

"Está tudo certo para a implantação amanhã", ela me disse ao telefone. Como foi bom ouvir isso. Estava muito apreensiva. Agora, mais do que nunca, estou apegada ao clichê mais verdadeiro que existe, de que basta um para dar certo. Porque eu estava com muito, muito medo de não ter nenhum, de o meu ovário já não estar mais funcionando. Mas ele ainda está, devargazinho, mas está.

Agora é torcer para que dê tudo certo amanhã na implantação. Um dia de cada vez. Tentando controlar a ansiedade.


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Gastos com FIV podem ser deduzidos do imposto de renda

Hoje não tem medicação, só o jejum que tenho que fazer a partir de meia-noite para estar na clínica amanhã às 9h. Então eu vim dar uma dica que foi muitíssimo valiosa para mim. Vocês sabiam que os gastos com tratamentos de fertilização in vitro podem ser deduzidos do imposto de renda?

Eu não sabia! Mas a enfermeira da clínica antiga me deu esse toque e, no último fim de semana, fiz a minha declaração de imposto de renda incluindo os valores das três fertilizações que fizemos em 2015 e tive a surpresa de receber uma restituição bastante significativa.

Aqui nessa matéria e aqui tem mais informações "técnicas" sobre a declaração e a restituição.

Me sinto muito - muito mesmo! - privilegiada por ter tido as condições de fazer três FIVs em 2015 e mais uma agora em 2016. Mas não foi fácil zerar todas as economias, por isso essa notícia foi tão boa: vamos reaver uma parte do dinheiro que investimos no ano passado, o que vai nos ajudar a pagar pela FIV atual - a nossa última, se tudo der certo!

E é bem simples: eu tenho todas as notas fiscais eletrônicas dos procedimentos de 2015. Bastou preencher com os dados com valores e CNPJ da clínica no aplicativo da Receita.

Os remédios não podem ser deduzidos do IR, a não ser que estejam incluídos na conta total da clínica, o que foi também o caso de 2015. Esse ano, infelizmente, a nova clínica só passou a vender os remédios quando já estávamos no meio do nosso ciclo de estimulação. Ou seja: tivemos que comprar a medicação na farmácia e não teremos restituição desse valor.

Então uma dica para quem está procurando uma clínica de fertilidade é se informar se a medicação para o estímulo é vendida no próprio estabelecimento. Não que esse deva ser o único critério para escolha da clínica, claro, mas é que os remédios custam (bem!) caro e poder obter uma restituição desse valor também já ajuda bastante.

Sonho com o dia em que toda mulher brasileira poderá fazer um tratamento de fertilidade de qualidade e sem custos no sistema público de saúde. Porque uma FIV ou mesmo uma inseminação são procedimentos totalmente inacessíveis para muitos. Mas, enquanto esse dia não chega, a dedução do IR já é uma colaboração.



terça-feira, 12 de abril de 2016

E lá se vai mais um dia: punção agendada

Ultra agendada para às 11h45, só fui atendida uma hora depois, às 12h45, o que me deixou bastante chateada. Eu liguei para a secretária para saber e ela me disse que não atrasaria, que só tinha uma paciente na minha frente. Pelo segundo dia consecutivo não almocei - sendo que estou super preocupada de me alimentar bem por conta do processo - e sumi por 2h30 durante o horário do almoço no trabalho. Queria não me estressar por essas coisas, mas é difícil.

Uma quarta médica, que ainda não conhecia, fez a ultra hoje. Ela era simpática e pediu desculpas pelo atraso e, diferentemente das duas outras, falou comigo durante a ultra sobre o que estava vendo. A boa notícia é que ela acha que o folículo que apareceu "do nada" do lado direito pode sim ser um folículo e não um cisto - é que meu ovário direito fica meio escondido e o folículo menor pode não ter sido visualizado. Torcendo muito para que seja, pois assim que estou com três folículos de tamanho bom.

O endométrio, que ontem estava com 5,2mm, hoje passou para 6,8mm em função do uso do estrogênio em gel (e também pela etapa da estimulação em que me encontro). Vou dobrar, por recomendação do médico, a dose do gel de estrogênio na expectativa de que o endométrio fique espesso rapidamente.

A punção foi agendada para a quinta-feira (14/4) às 10h. A coleta dos espermatozoides do marido é feita enquanto eu estiver no centro cirúrgico. Hoje, às 23h, tomarei o Ovidrel e encerrarei a medicação (Gonal e Menopur) - serão as últimas três injeções que espero precisar tomar em muito tempo.

A transferência poderá ser realizada no sábado ou na segunda-feira, mas vai depender da evolução do endométrio. Caso o endométrio não ultrapasse os 8mm, existe a possibilidade de congelarmos os embriões que tivermos (porque tenho fé que teremos pelo menos dois) para implantar em um ciclo sem medicação que interfira no endométrio. Mas isso será avaliado ainda.

Como é um dia de cada vez, agora preciso me preocupar com a punção. As recomendações são:

  • Jejum (até de água, o que é tenso pra mim) a partir de meia-noite de quarta-feira;
  • Chegar uma hora antes na quinta-feira;
  • Não usar desodorante, maquiagem perfume, hidratante nem nada que exale cheiro. 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Um dia de cada vez: endométrio fino

Minha ultra hoje estava marcada para às 11h30. Às 11h liguei e fui informada de que três pacientes estavam na minha frente, ou seja, não atrasaria muito, já que as ultras são rápidas. Então eu calculei para chegar lá às 11h40, mas só fui ser atendida às 12h20, quarenta minutos depois.

As notícias do dia: folículos do ovários esquerdo estão crescendo (19,5mm e 17,5mm), apareceu um folículo de 18mm no ovário direito - mas, como ele surgiu do nada, pode ser que seja apenas um cisto. De qualquer forma, será aspirado na punção para que seja verificado.

Diante do resultado da ultra, a médica achou que a punção seria marcada para a quarta-feira. Mas, após consultar o meu médico, ele decidiu não agendar ainda. Isso porque meu endométrio - que sempre foi lindo, elogiado por seu aspecto trilaminar, que engrossava bonitinho - resolveu não colaborar desta vez e está fininho. E o que isso significa? Que há riscos de os meus dois (talvez três) folículos não conterem óvulos. É que os folículos produzem estrogênio, que, por sua vez, faz com que o endométrio fique espesso. Como ele está fino, há essa preocupação.

A decisão do médico, então, foi receitar um gel de estrogênio para ver se o endométrio fica mais espesso. Vou usá-lo hoje à noite e, amanhã, estarei de volta à clínica, tendo, de novo, que fazer malabarismo no trabalho por conta do horário. Espero engravidar logo para poder explicar.

É tudo muito louco nesse processo: é realmente uma etapa de cada vez. Tem que ter folículo, folículo com óvulo, endométrio espesso, hormônios com taxas ideais, o embrião tem que fecundar, tem que se desenvolver, tem que ser implantado. E, entre cada uma dessas etapas, milhões de fatores podem pintar e atrapalhar tudo. Eu, como já fiz três fertilizações no ano passado, achava que saberia exatamente como tudo caminharia nesse ciclo. Mas já aconteceram várias coisas diferentes, meu corpo tá apresentando novos sinais e, claro, dá medo. Mas seguimos em frente, um dia de cada vez...

domingo, 10 de abril de 2016

Que seja uma semana decisiva

Ontem (sábado) de manhã estivemos de novo na clínica. Dessa vez fomos atendidos por um médico bem simpático. Como isso faz diferença! Realmente não gostei das duas médicas que fizeram as minhas ultras anteriores, super frias, zero compaixão.

O médico simpático também fez a ultra bem rapidinho e logo viu que o ovário direito não evoluiu quase nada, mas que os dois folículos do esquerdo continuaram crescendo satisfatoriamente. Ele decidiu então que deveria começar o cetrotide, que foi aplicado na clínica mesmo por uma enfermeira, também simpática e sorridente.

Amanhã, segunda, volto para conferir a evolução e, provavelmente, marcar a punção folicular, que deve ser realizada na quarta ou na quinta-feira.

Desde sábado, então, estão sendo três injeções por dia - uma pela manhã e duas à noite. Sinto um pouco de dor de cabeça e um cansaço forte. Tive alguma reação no local da injeção que a enfermeira me aplicou ontem, ficou bem roxo e dolorido. Meu marido aplica melhor - com ele não tive nada!

E lá vamos nós começar mais uma semana, cheia de expectativas, sonhos e angústias. Que seja uma semana decisiva: que a punção seja bem-sucedida, que nossos dois embriões cresçam lindamente para serem transferidos, que se implantem e tenhamos um resultado positivo até o fim deste mês.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Retorno à clínica

Hoje, às 6h30, nos despencamos lá pra clínica. Chegando lá, como de praxe, primeiro fiz o exame de sangue (progesterona e estradiol hoje) e segui para fazer a ultra. Na ultra de segunda, a médica tinha visto um folículo pequeno no ovário direito e dois no esquerdo. Hoje, a médica viu que o folículo do ovário direito não evoluiu, mas que os dois do esquerdo estão crescendo dentro do esperado - 10,5mm e 11,5mm.

Ela consultou o nosso médico, que pediu para voltarmos amanhã! Havia a possibilidade de começar o cetrotide hoje, mas ele achou melhor esperar até amanhã para decidir. Então amanhã estaremos de volta. Ao menos é sábado, tem menos trânsito e não tem trabalho - o que significa que também não tem tanta correria e nem desculpas loucas.

Hoje mesmo eu estava fazendo home office e não falei para ninguém que fui até a clínica - que fica no bairro super longe onde eu também trabalho. Fui trabalhando no celular e, assim que cheguei em casa de volta, às 10h, fiquei disponível no computador - antes, claro, tomei a última dose do serophene. Por isso que eu queria tanto ter conseguido fazer o tratamento nas férias, porque acho que todo esse estresse também não contribui.

Mas enfim, amanhã voltaremos à clínica torcendo para que, nessas 24 horas, os dois folículos do ovário esquerdo cresçam lindos e saudáveis. Essa é a expectativa desse ciclo de tratamento: ter dois óvulos de qualidade, para ter dois embriões excelentes.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Tudo novo de novo

Pois o dia 4/4 chegou, enfim. E hoje, às 6h20, lá fomos nós para a clínica. Colhi um exame de sangue e depois subi para aguardar a ultra. Mais uma vez a médica que fez a ultra não falou nada e, se eu não tivesse perguntado, não sei se ela me diria quantos folículos eu tinha. Como perguntei, recebi a resposta de que estou com um folículo no ovário direito e dois no ovário esquerdo. É pouco, bem pouco - mas não é nada.

Assim que terminou a ultra, ela pediu que aguardássemos enquanto ela falava com o médico, que hoje não estava na clínica. Quando nos chamou de volta, disse que optaram por fazer o protocolo seminatural, que consiste em mesclar medicamentos "mais fracos", normalmente usados em processos de indução para coito programado ou inseminação artificial, com remédios "mais fortes" usados nos ciclos de estimulação para FIV.

Isso porque, como já fiz três FIVs, é sabido que a minha resposta ovariana não é melhor quando a dose de medicação para estímulo é máxima. Então posso usar uma dose menor de hormônios (e economizar um pouco, porque esse protocolo sai mais em conta já que usa menos medicação).

O tratamento seminatural foca na qualidade dos folículos e óvulos e não na quantidade. Ou seja: o foco é produzir óvulos de qualidade máxima, mesmo que sejam poucos, para aumentar a chance de sucesso na implantação.

Ah, e a testosterona, que tanto me deu esperanças, não fez efeito nenhum. Usá-la não contribuiu para que meu ovário ficasse menos preguiçoso, infelizmente.

A médica nos passou toda a lista de remédios (são cinco!) e as instruções para tomá-los, começando hoje, ainda de manhã. Fomos encaminhados ao setor financeiro, onde assinamos os termos de consentimento e depositamos um cheque e, principalmente, todas as nossas esperanças.

Corri atrasada para o trabalho, corri na hora do almoço para comprar o primeiro remédio na farmácia, tomei dois comprimidos antes de ir encontrar os colegas no restaurante, e segui o dia como se nada fosse. Chegando em casa, correndo de novo para pegar a farmácia aberta para comprar o restante dos medicamentos. Hoje às 22h terão início as injeções. Serão dois comprimidos (Serophene) e duas injeções (Gonal e Menopur) por dia até sexta, 8/4, quando retornaremos para ver a evolução do estímulo.

É difícil me manter confiante e positiva, mas estou tentando.