segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Bate-volta em São Paulo


Após uma cansativa viagem de ônibus na madrugada de sexta pra sábado, chegamos em SP por volta das 6h. Passamos no "hotel" e deixamos as coisas. "Hotel" entre aspas porque era bem caído, mas a localização era excelente: 3 minutos a pé da clínica, onde a coleta do marido estava marcada para 7h30.

Também entregamos todos os documentos e contratos originais que já tinham sido enviados por email. E fomos informados de que fertilização ocorreria no próprio sábado. Soube também que não precisaria fazer mais nenhum exame: ou seja, não haveria necessidade de ficar em SP.

Enquanto tomávamos café em uma padaria daquelas bem paulistanas, recebi uma ligação da clínica dizendo que a transferência será na quinta-feira, 2 de fevereiro (Dia de Iemanjá, trago-lhe oferendas para te ofertar, e sem idolatria, o Olodum seguirá). E que o horário será definido apenas na véspera, dia 1o de fevereiro.

Assim, decidimos voltar pro Rio no sábado mesmo. Junta milha daqui e dali e conseguimos duas passagens pra voltar de avião no fim do dia - chegamos ao aeroporto cedo e ainda conseguimos antecipar a ponte-aérea. No início da noite já estávamos no Rio - a viagem de ônibus é cansativa, mas tranquila. Mas não dá nem pra comparar seis horas com 38 minutos, que é a duração do voo.

Domingo, às 9h em ponto, o telefone toca: era da clínica com a notícia de que os oito óvulos tinham sido fertilizados! Os oito! Cheios de sono, ficamos muito, muito felizes.

A embriologista disse que na segunda eles não entram em contato, mas ligam na terça para falar sobre a evolução do embrião. Acho bem legal esse esquema em que eles dizem o dia certinho que vão telefonar. Assim dá pra controlar minimamente a ansiedade.

Vamos voltar pra SP na quarta à noite para fazer a transferência na quinta - estou chutando que será na parte da tarde.

No sábado comecei também a tomar a progesterona - uma cápsula via vaginal de Utrogestan a cada doze horas. E no domingo entrou o Crinone à noite. O papel da progesterona é contribuir para a manutenção do embrião no útero - ela estimula a proliferação das células do endométrio e impede sua descamação.

Agora é aguardar até amanhã pra ter notícias dos nossos embriões. Respirando fundo, um dia de cada vez.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Porque tem que ser com emoção

Anteontem no fim do dia fiz a ultra. Resultado: endométrio com 9-10mm de espessura, trilaminar e centrado, considerado "uma beleza" pelo médico ultrassonografista. Mandei o laudo pra clínica de SP, mas, como já era depois das 19h, me retornaram ontem por volta das 8h.

Disseram que o resultado da ultra estava excelente e que meu útero já estava "pronto", mas que uma formação cística no ovário esquerdo podia estar liberando hormônios indesejados, por isso pediram que eu fizesse com urgência uma dosagem de estradiol e progesterona.  Eles precisavam do resultado ainda ontem (sexta-feira).

Quando liguei estava indo participar de um evento do trabalho, mas desviei a rota do táxi e fui pro laboratório. Chegando lá, o convênio não aceitou o pedido médico somente por e-mail. Para não perder ainda mais tempo, acabei pagando os exames, com uma dor no coração por tomar uma facadinha desnecessária.

Cheguei atrasada no evento cerca de uma hora, logo meu telefone toca. Saio da sala e era da clínica, pedindo que estivéssemos em São Paulo no sábado para que o marido faça a coleta e os óvulos fossem descongelados e fertilizados. Volta pra sala, finge que está prestando atenção, com a cabeça a mil, querendo resolver todas as coisas, pesquisar passagem etc etc etc. Louvado seja quem inventou o whatsapp, que é uma pentelhação algumas vezes, mas uma verdadeira mão na roda quando se precisa. Deu pra falar com marido, mandar resultados de exames anteriores pra clínica, até dar uma olhada rápida nos sites de passagens (fica a dica para quem quiser inventar um aplicativo/site responsivo realmente bom, porque acho bem pior comprar/pesquisar passagem pelo celular).

Tudo isso com uma sensação permanente de frio na barriga e nervoso. O evento termina, almoça com todo mundo, socializa fingindo que está interessada, volta pra uma reunião e deixa o celular carregando. O dia de trabalho termina, mas ainda havia mais um compromisso agendado com as colegas: visitar o bebê de uma outra colega. Penso se desisto, se vou... mas decido ir, enquanto resolvo mil coisas no celular e tento ver os resultados dos exames feitos hoje de manhã. Claro que ONTEM o laboratório resolveu implantar um novo sistema, que não estava funcionando... Depois de ligar umas três vezes pra lá, somente pelas 19h o resultado saiu (isso porque havia pedido urgência).

E aí a clínica já estava fechada, então liguei pro telefone de emergência e fui atendida por uma enfermeira maravilhosa e muito atenciosa que me tranquilizou dizendo que o estradiol e a progesterona estavam excelentes. Logo depois o médico me respondeu pelo whatsapp dizendo o mesmo - como ele não é muito rápido, liguei logo pro plantão da enfermagem.

A passagem comprada anteriormente foi cancelada - nossos cálculos não se concretizaram. Eles teriam se concretizado se houvesse ainda amostra seminal do marido na clínica. Como não havia, a solução foi correr para SP às pressas. Compramos passagens de ônibus - quase chorei por causa do preço do leito e a moça vendeu pra gente pelo preço do normal.

Cá estamos, após uma cansativa viagem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O estradiol na preparação do endométrio

Hoje é o oitavo dia do meu ciclo e o sétimo tomando Estradiol (Primogyna). Sua função basicamente é fazer com que o endométrio engrosse - é esse hormônio que atua no período pré-ovulatório e que estou suplementando para garantir um endométrio espesso. Estudos demonstram que o ideal, para uma implantação embrionária bem-sucedida, é que o endométrio esteja com mais de 7mm. Quanto maior que isso, melhor, pois assim o embrião consegue se alojar melhor.

Como já comentei, meu endométrio costuma engrossar satisfatoriamente, mas somente amanhã vou tirar a prova. Farei a primeira ultra no 9o dia do ciclo, torcendo por condições favoráveis e nenhuma surpresa.

Desde domingo à noite, a dose de estradiol dobrou, o que traz uns efeitos colaterais bem chatinhos. Tô dando check em quase todos da bula:
  • Cefaleia: tô tendo dores de cabeças fortes todos os dias.
  • Náusea: lá pelas 18h, bate um enjoo gigante. 
  •  Erupção cutânea: cheia de espinhas, aparecem umas 3 novas por dia no rosto e no colo principalmente.
  •  Dor nas mamas.
  •  Aumento ou diminuição do peso corporal: não me pesei, mas acho que ganhei ums quilinhos e tô me sentindo bem inchada.
Desagradável, mas dá para ir levando. Ansiosa para saber qual será o resultado da ultra de amanhã.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Um balanço de 2016 (e de tudo um pouco)

I SEE!!! 02

Em 2016, eu fiz 15 exames de sangue. Comparado com 2015, até que foi pouco: há dois anos, foram 26 exames de sangue. Em 2014 foram 9 e, em 2013, cinco. Hoje resolvi parar para contar: desde que passei a tentar engravidar, já fiz 55 exames de sangue. Isso para alguém que sempre teve fobia de agulha é um número assombroso. No início, eu sempre agendava a coleta em casa, onde ficava deitada no sofá com uma almofada cobrindo meu rosto, tamanho meu pânico. Depois, quando os exames passaram a ser mais frequentes, comecei a ir até o laboratório acompanhada do marido, não sem antes ter uma pequena crise de medo. Mais pra frente, passou a ser impossível ter sempre a companhia do marido e venci uma barreira que sempre julguei intransponível: fui sozinha ao laboratório. Nunca vou gostar de fazer exame de sangue - alguém gosta? - mas hoje lido muito melhor com isso. Basta respirar fundo e fechar os olhos na hora da coleta. Ainda prefiro quando marido pode me acompanhar, é claro, mas vou sozinha sem dramas - perdi a conta de quantas, dessas 55 vezes, estava sem ninguém, fui na hora do almoço e voltei ao trabalho like a big girl.

No ano passado, foram também pelo menos 17 ultrassonografias transvaginais. Fazendo um cálculo por baixo, desde 2013 já devo ter feito cerca de 70 ultras - não registrei todas dos último quatro anos. É um exame incômodo, mas que costuma ser sempre rapidinho, então para mim não é sacrificante. Prefiro mil vezes do que os exames de sangue e suas agulhas.

365 x 4 dá 1.460, o número de comprimidos de ácido fólico que já tomei nessa vida. Na verdade 1.471, considerando que já estamos no dia 10 de janeiro e que 2016 foi bissexto. Some-se a isso centenas de outros - Clomid, Primogyna, Coenzinma Q10, Vitamina D, Dostinex, Cicloprimogyna, Letrozol e alguns que nem lembro mais - e é possível que essa marca esteja se aproximando dos 2 mil comprimidos. Fiquei até assustada quando fiz essa estimativa! Se tem algo de positivo nisso é que engolir comprimido deixou de ser um martírio para mim. Meu blog é anônimo mesmo, então vamos lá confessar que, além de fobia de agulhas, eu não conseguia engolir comprimidos até pouco tempo atrás. Não sei o que era, mas simplesmente era impossível: eu mastigava, triturava, mas engolir não conseguia, me dava ânsia de vômito, eu engasgava, e não descia. Aos poucos os comprimidos menores começaram a descer e, de tanto tentar, acabei conseguindo engolir outros maiores também. Ainda sofro um pouco com aqueles muito grandes, tipo o Materna, mas é só me concentrar um pouco que vai.

Também não arquivei todas as injeções, mas, a partir de dado momento de 2016, decidi que passaria a guardá-las para registrar. Nunca esqueço da foto impactante que uma mãe postou da sua bebê cercada pelas seringas que tornaram seu nascimento possível. Essa imagem me fez ter tido vontade de guardar tudo para registrar, mas infelizmente já não o fiz. Acho que a foto concretiza um pouco o processo.

Guardei apenas 51 de todas as injeções de medicações que tomei no ano passado. Fazendo uma estimativa também bem por baixo considerando todos meus ciclos iniciados e interrompidos desde 2013, já devo ter passado da marca de 200 injeções. O que é também impressionante não apenas pela enorme quantidade, mas porque, como já falei, sempre tive fobia de agulhas, então não deixa de ser uma superação para mim. Especialmente porque logo no começo eu aprendi a me autoaplicar, mais uma coisa que jamais imaginei ser possível de acontecer. Já saí no meio de reunião correndo pra aplicar uma injeção no banheiro do trabalho. Para a menina que saía correndo era na hora que tinha que tomar vacina, isso é uma mudança e tanto.

O que fica de lição? Um clichê: somos capazes de muito mais do que imaginamos. Essa longa jornada tem sido também uma jornada de autoconhecimento e de superação. Os obstáculos têm sido muitos e eu pareço não conseguir parar de tropeçar. Mas o que vejo é que dá para levantar. E torço para que a linha de chegada esteja cada vez mais próxima.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

É dada a largada

On your mark

Todo mês tenho a sensação de estar como os atletas naquela posição de "pre-pa-ra" antes de cair na piscina ou de começar a correr. O início do ciclo é o alarme ou o tiro que sinaliza o "go". Só que, enquanto o Usain Bolt cruza a linha de chegada em menos de 20 segundos, eu vou tropeçando nos obstáculos lenta e vagarosamente.

Na terça-feira finalmente a menstruação veio, ainda bem fraquinha, então não considerei como meu primeiro dia do ciclo. Ontem o fluxo já ficou intenso, então hoje comecei a medicação. Até sábado tomarei um comprimido por dia e, a partir de domingo, serão dois por dia. Entre quarta e sexta da próxima semana marcarei a primeira ultra, quando será definida a data para fertilização e implantação - se for possível realizá-las nesse ciclo.

O médico não quis prever uma data, então continuamos com as passagens compradas, sabendo que muito possivelmente teremos que antecipar ou postergar a viagem para São Paulo. Vamos aguardar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Rio 40 graus: como se proteger do Aedes aegypti



Quando a epidemia de Zika eclodiu, em meados de 2015, eu já tentava engravidar há dois anos e meio. Fiquei apavorada, obviamente. Conversei com meu médico na época e ele me disse que, se houvesse alguma certeza de que o surto da doença estaria contido dentro de alguns meses ou até anos, ele me diria para aguardar e reiniciar as tentativas então. Porém, como não havia nenhuma garantia desse tipo, o que me sugeria era continuar tentando e me protegendo.

Desde então, uso repelente diariamente. Já foram tubos e tubos do tal repelente que é indicado para gestantes e crianças e que seria mais eficaz contra o Aedes - o Exposis. Lembro que, em 2015, o repelente dessa marca sumiu das prateleiras e encareceu absurdamente. Rolou até um mercado negro. Dei sorte de sempre conseguir encontrar, garantindo meu estoque e o das amigas grávidas e com filhos - o combinado era que, quem conseguisse encontrar, compraria logo vários.

Em 2016, durante o inverno, dei uma relaxada no uso do repelente, mas já retomei com força total desde que os primeiros dias de calor despontaram no Rio. E minha preocupação é proporcional à elevação do termômetro - que, no caso da cidade onde vivo, não para de subir. Só saio para trabalhar de calça, o que significa chegar pingando no metrô e estar sempre suada, o que é deveras desagradável. Porque tem dias que às 8h da manhã o termômetro já está marcando 42 graus. É tenso.

Calças de tecido fino e menos justas são mais adequadas ao calor. Também uso saias longas e macacões quando possível. E não deixo de passar o repelente de qualquer maneira - até porque não consigo sair de calça e blusa de manga comprida, então preciso proteger os braços também.

Acho que não custa nada relembrar algumas dicas para se proteger do mosquito - que devem ser seguidas não apenas por gestantes, mas também por quem está tentando engravidar. Não à toa, a Anvisa passou a exigir que homens e mulheres façam o exame de Zika antes de serem submetidos a tratamentos de fertilização in vitro.

  • Se o mosquito pode matar, ele não pode nascer.
  • Mantenha-se vigilante quanto à limpeza da sua casa, cuidando para que pratinhos com vasos de plantas, lixeira, baldes, ralos, calhas, garrafas, pneus e, até brinquedos, não sirvam de criadouro para as larvas do mosquito.
  • Mantenha-se vigilante quanto à limpeza do seu bairro. Denuncie o acúmulo de lixo e entulho, ou qualquer recipiente que possa abrigar a larva do mosquito.
  • Utilize telas em janelas e portas, use roupas compridas – calças e blusas – e, se vestir roupas que deixem áreas do corpo expostas, aplique repelente nessas áreas.
  • Fique, preferencialmente, em locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis.
  • Ambientes com ar-condicionado e ventilador tendem a ter menos mosquitos, já que eles preferem ambientes quentes e úmidos.
  • Repelentes devem ser aplicados nas áreas expostas do corpo e por cima da roupa;
  • A reaplicação deve ser realizada de acordo com indicação de cada fabricante.
  • Para aplicação da forma spray no rosto ou em crianças, o ideal é aplicar primeiro na mão e depois espalhar no corpo, lembrando sempre de lavar as mãos com água e sabão depois da aplicação. Aqui tem mais orientações sobre uso de repelente.


No site do Ministério da Saúde tem muitas outras informações, assim como no site da Fiocruz, que publicou um Mitos e Verdades interessante.

Acho também fundamental buscar sempre as fontes oficias de informação e evitar acreditar em tudo que vê na internet ou recebe pelo whatsapp.

Nós já estamos com o pedido para fazer o exame de Zika - e confesso um medinho de dar positivo, ainda mais que há casos em que os sintomas da doença não se manifestam. Vamos fazê-lo mais perto de iniciar o tratamento, já que o exame tem validade de apenas 30 dias. O que nos resta a fazer é nos proteger sempre. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Carta às minhas amigas que querem ter filhos

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Eu sou uma mulher que quer ter filho, mas não consegue. Talvez vocês nem imaginem, mas há quatro anos (ou 53 ciclos) travamos uma batalha contra a infertilidade. Uma luta dura, desgastante emocional e financeiramente, que nos fez ingressar num universo que nos era totalmente desconhecido - como acho que seja para a maioria de vocês.

Para uma mulher que não consegue engravidar, dói - e até dá um pouquinho de raiva - saber que a Bela Gil recomenda cortar lactose, glúten e "subir escadas" para "preservar a fertilidade". É óbvio que uma alimentação saudável e a prática de exercícios contribuem para quase tudo nessa vida. Mas me parece óbvio também que ela nunca conviveu com uma mulher com problemas sérios de fertilidade e que esse não é o campo de expertise dela.

Nos últimos quatro anos nossa jornada foi muito longa, com muitos exames, consultas, remédios, hormônios, injeções, tentativas e tratamentos mal sucedidos. E muita tristeza e frustração. Não vou entrar em detalhe de todos os tratamentos pelos quais passamos, caso alguém tenha interesse depois posso explicar melhor.

Resolvi escrever isso (e ainda não sei se enviarei) porque acho que precisamos nos empoderar sobre a fertilidade. Perdi minha virgindade aos 18 anos e vou ao ginecologista regularmente desde os 16 - o que fará 18 anos em março próximo. Nunca, em tempo algum, as médicas conversaram comigo sobre questões de fertilidade. Eu nunca achei que poderia não engravidar. Para mim tratamento de fertilização in vitro era coisa de casal que aparecia na Caras.  Bastaria parar a pílula e alguns meses de tentativa para que eu tivesse o primeiro dos meus 3 sonhados filhos.

Mas a vida me deu uma porrada mostrando que não é bem assim. E eu - falo por mim apenas, que fique claro - gostaria de ter sabido antes sobre as minhas possíveis dificuldades. Gostaria de ter podido me preparar para a infertilidade, de ter pensado nisso antes, de ter tido a possibilidade de, quem sabe, decidir começar as tentativas antes dos 29 anos ou até mesmo de optar por congelar meus óvulos.

O meu problema é o que chamam de "baixa reserva ovariana" ou ainda "falência ovariana precoce". Já ouviram falar sobre isso? Pois eu nunca tinha ouvido até receber o diagnóstico depois de quase dois anos de investigações. Quando nascemos, nossos ovários já vêm "carregados" de milhões de folículos que, ao longo de nossas vidas, serão liberados mensalmente transformando-se em óvulos. Com o passar dos anos, essa reserva vai se esgotando e, no meu caso, está se esgotando um pouco mais rápido do que a maioria das mulheres de minha idade. Isso pode ser um indicativo de que eu vá entrar na menopausa precocemente.

Embora ainda não tenha entrado - tenho ciclos regulares e menstruo todos os meses há quatro anos desde que parei a pílula - minha reserva de folículos já está próxima do fim. Não existe um exame que diga exatamente qual é o tamanho da sua reserva, mas é possível estimar se ela é baixa ou não por meio da dosagem de um hormônio chamado anti-mulleriano. Ele é um indicador de que minha reserva está próxima do fim e que, por isso, meus folículos já não apresentam a mesma qualidade. É como se meu ovário tivesse envelhecido precocemente e fosse equivalente ao de uma mulher mais velha do que eu. E não se sabe o porquê disso - pode ser simplesmente genético ou fruto de alguma intervenção cirúrgica. Os médicos que me examinam sempre perguntam se eu fiz alguma cirurgia no ovário - como não fiz, conclui-se que seja genético, embora não haja histórico sabido de problemas de fertilidade entre as mulheres de minha família.

Enfim, o universo da infertilidade tem muitas variáveis e muitos fatores e não pretendo aqui falar sobre isso. Há tempos que penso em mandar esse email, mas reluto sempre por não querer causar nenhum tipo de "pânico".

O que eu gostaria de fazer é sugerir que pensem mais sobre fertilidade, conversem com seus ginecologistas ou outros médicos, com seus parceiros, se houver. Estamos todas em uma faixa etária em que é preciso falar sobre isso, mas ninguém fala. Penso que parte disso ainda é fruto de um patriarcalismo tão arraigado que sequer discute a possibilidade de uma mulher não conseguir engravidar. Esse é o papel dela e ponto. Nem mesmo os médicos me parecem enxergar de outra forma. E nem estou aqui pensando nas mulheres que não querem ter filhos.

Me entristece ver como a questão é um tabu. Não é mesmo fácil falar, mas acho que não precisaria ser tão difícil assim.

Foi por querer o bem de vocês e por achar mesmo que precisamos falar sobre isso, que resolvi escrever. A última intenção do meu relato é assustar ou ofender alguém. Espero de coração que não se sintam assim. Meu "alerta" é porque não desejo que ninguém passe pelo que estou passando.

Nos últimos quatro anos tive altos e baixos. Tive fases longas de não querer sair de casa para não encontrar ninguém que pudesse me fazer uma pergunta sobre o assunto. Talvez não tenham percebido, mas deixei de ir a alguns eventos ou, quando fui, me forçando a continuar vivendo, fui embora mais cedo ou fiquei me sentindo muito mal. Comecei a fazer terapia, coisa que nunca tinha feito nos meus 33 anos - não por desacreditar, mas por não ter sentido mesmo necessidade. Hoje posso dizer que estou numa fase um pouco mais serena. Mas só um pouco mesmo, porque para quem sempre sonhou em ter filhos e ama crianças como eu, a infertilidade é um pesadelo constante.

Envio abaixo algumas sugestões de leitura para quem tiver interesse. E me coloco à disposição para detalhar mais os processos, caso alguém queira.

Regras de etiqueta para a infertilidade ou o que não dizer para uma mulher que tenta engravidar

22 coisas que todo casal cisgênero deveria saber sobre fertilidade

Como a idade afeta a fertilidade feminina

Teste: mitos e verdades sobre a fertilidade

Guideline para abordagem da infertilidade conjugal da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana

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Escrevi essa carta depois de ter tido um encontro com cerca de 15 amigas muito queridas e de longa data em que, claro, o assunto gravidez surgiu. Dessas 15, apenas três têm filhos e uma está grávida. Todas têm mais de 30, sendo que a maioria tem mais de 35 anos, algumas inclusive já mais perto dos 40. Dado momento, começaram a falar dessa orientação da Bela Gil, o que acabou me irritando. Mas eu, claro, como sempre, fiquei calada, fui na cozinha pegar uma coisa pra beber, fui fazer xixi torcendo pro assunto acabar. E escrevi o texto acima, que ainda não decidi se mando ou não.

domingo, 8 de janeiro de 2017

De olho no calendário

Blooming 2017

Já perdi a conta de quantas vezes eu falei por aqui que nessa vida de FIV não dá pra planejar nada. Mas o que acontece? A gente planeja de qualquer forma. Disse que queria passar o tratamento todo em São Paulo dessa vez. Mas aí o médico me responde dizendo que não havia necessidade.

Porque da menstruação até a implantação, no caso da ovodoação, são cerca de 17 dias. O que seria tempo demais para ficar em São Paulo - sem falar nos gastos extras. Então mudamos a data de ida, em vez de fim de janeiro, iremos no início de fevereiro. Já compramos a passagem de avião para garantir uma promoção e agora é torcer para não ter nenhum impeditivo que faça a gente perder essa ida ou alterá-la pagando mais. 

Segundo o médico, o preparo do útero e do endométrio para a ovodoação é bem mais simples do que para a FIV tradicional. 

  • No segundo dia do ciclo, começarei com 1 comprimido de Primogyna - remédio que inclusive já tenho em casa - por três dias seguidos. Ele esclareceu que devo apenas considerar como o primeiro dia do ciclo aquele em que há fluxo mais intenso.
  • A partir do quinto dia do ciclo, aumentarei o Primogyna para duas vezes ao dia.
  • Entre o 8o e 10o dia de medicação, devo marcar um ultrassom para ver como está o endométrio e, então, decidir a data do procedimento. 
  • Após 10 a 12 dias de Primogyna, adicionarei o Utrogestan e o Crinone - que também já tenho, mas não em quantidade suficiente - por cinco dias, totalizando 17 dias de preparo.

Então, fazendo estimativas e considerando que ficarei menstruada no dia 18 de janeiro conforme o aplicativo está indicando, começarei o Primogyna no dia 18 ou 19/1. No dia 21 ou 22/1, passarei a tomar os dois comprimidos diários. Farei a primeira ultra entre os dias 25 e 27. Entre os dias 27 e 29/1 começarei com Utrogestan e Crinone. 

Os 17 dias estarão completos por volta do dia 3/2 e nossa ida pra SP marcada para o dia 4/2 - retorno agendado para 12/2. Ficaremos 9 dias inteiros por lá, tempo que seria suficiente para marido fazer a coleta e o óvulo doado ser fertilizado e implantado.

Agora vamos ver se esses planos vão ser minimamente cumpridos ou se vão ser totalmente alterados. Com todo meu histórico, já estou totalmente preparada para isso.