Logo de manhã recebi torpedo da clínica pedindo minha senha para login no site do laboratório. Ainda nem tinha feito o beta: adiei o máximo possível e fui somente na hora do almoço fazê-lo. E ainda demorei a enviar a senha para a clínica, só lá para o fim da tarde é que respondi ao torpedo com as credenciais. Pouco depois, meu telefone toca e era de lá. Passando mal de nervoso, não tive coragem de atender. Por que será que me ligaram tão rápido? Acabei de mandar a senha pra eles, será que já deu tempo de verem o resultado? O que será? Sem saber o que pensar ou fazer, fechei meu laptop no trabalho, coloquei na bolsa e peguei um táxi para casa. A minha porção otimista fez com que não aguentasse chegar e abri o resultado ainda no táxi. Deveria ter esperado Emanuel, para vermos juntos, mas não o fiz. Atordoada, ainda achei que pudesse ter visto errado e, chegando em casa, abri o iPad para ver melhor e vi uma, duas, trezentas vezes. Porém não restava dúvidas. Os nossos vaga-lumes não se mantiveram acesos. Nosso sonho, mais uma vez, escorria pelas mãos. Nenhum dos nossos três embriões implantados nesta última tentativa vingaram. A sensação é de morte, a deles e a nossa. Todas as luzes se apagaram. Quando Emanuel chegou nos abraçamos e sentimos uma dor que é só nossa. Mais uma vez.
Já tem mais de um mês que pegamos o resultado negativo, mas não havia tido coragem - ou vontade ou força... - para escrever o que quer que fosse. Eu perdi a conta de quantos testes de gravidez já fiz desde fevereiro de 2013. Foram inúmeros. Todos muito, muito sofridos. Mas os mais dolorosos foram os de março e setembro de 2015, após nossas duas tentativas de fertilização in vitro. É natural que nestes, com toda a ajuda da ciência, tanto hormônio, tanta medicação, tanto investimento físico e emocional, tanto acompanhamento, nossas expectativas fossem mais altas. E, consequentemente, o sofrimento, a dor, a frustração e a tristeza também aumentam, agravados, é claro, pelo tempo.
Mas não desistimos e não vamos desistir.
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