Porque ouvir de uma amiga "Ah, é muito normal não dar certo na primeira tentativa" quando você conta que fez uma FIV não traz nada de bom. É claro que sim, é normal, as estatísticas não mentem, mas é também terrivelmente doloroso, imensamente triste, além de frustrante e desgastante - somente para usar alguns adjetivos que se aplicam ao momento.
Talvez não traz nenhum conforto escutar de outra pessoa que talvez a fertilização não seja o tratamento mais adequado, que talvez tenha sido uma indicação médica precipitada e com vistas ao lucro. Precipitado para quem? Questionar nossa opção pela FIV é questionar nossa capacidade de decidir, é duvidar da nossa lucidez. É nos chamar de exagerados, achar que não nos esforçamos o suficiente, que a culpa não é dos nossos hormônios e aparelhos reprodutores, mas da nossa cabeça - imatura, ansiosa, infantil. É dizer que, se fôssemos mais emocionalmente inteligente, teríamos conseguido uma gravidez natural. Sem dúvida que, num processo como esse, a inteligência emocional é importante pra caramba. Mas poxa, porque haveríamos de nos boicotar dessa forma?Por que nossas mentes não contribuiriam para que conseguissemos realizar o maior sonho de nossas vida? E talvez, sim, eu seja fraca, ou sejamos fracos. Mas ouvir isso não consola.
"Tenho uma amiga que está passando exatamente por isso."Assim, exatamente, exatamente é muito difícil que seja. São inúmeras as combinações de fatores que levam à infertilidade conjugal. E é bastante improvável que sua amiga e o marido tenham as mesmas questões. Generalizar é sempre complicado.
"Um casal de amigos tentou por 10 anos e engravidou naturalmente depois que desistiu". "Minha prima engravidou no memso mês em que adotou uma criança." Fico, de verdade, e não é hipocrisia, feliz por esses casais. E ficaria muito feliz se acontecesse com a gente. Só que isso ajuda a alimentar falsas esperanças. Porque a verdade é que só se falam dos casos bem-sucedidos. Ninguém quer ficar contando a sua história de fracaso.
Não existe um consolo e nem um conselho ideal. Mas o melhor é que o interlocutor pode fazer é escutar. Colocar-se à disposição. Ter cuidado com o que fala. Fazer perguntas e aceitar não-respostas. Falar de outro asunto quando necessário. Caminhar ao lado.
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