quinta-feira, 7 de julho de 2016

Especialistas defendem que meninas de 9 anos sejam informadas sobre relógio biológico

Li hoje uma notícia sobre especialistas ingleses que defendem que meninas de 9 anos sejam informadas sobre seus relógios biológicos, que traduzo livremente abaixo.

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O diretor da Sociedade Britânica de Fertilidade (BFS) e professor da universidade de Leeds, Adam Balen, acredita que as crianças devem aprender desde cedo sobre fertilidade.

"É algo que temos discutido muito na BFS. Há preocupações de que isso possa diluir a mensagem de que adolescentes devem evitar engravidar e ainda temos que alertar sobre doenças sexualmente transmissíveis, mas também precisamos garantir que jovens tenham uma melhor compreensão sobre a fertilidade", afirmou Balen à Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia".

Uma pesquisa da BFS feita no início deste ano descobriu que 4 entre 5 jovens com idades entre 16 e 24 anos erroneamente achavam que a fertilidade feminina só começava a cair após os 35 anos. Na realidade, esse declínio pode começar antes mesmo dos 30 para algumas mulheres.

Balen acredita que as meninas precisam aprender cedo sobre a importância da alimentação saudável, de se exercitar e de não fumar para garantir que seus corpos mantenham-se em forma para engravidar.

"Precisamos passar essa mensagem cedo e consistentemente para que os hábitos sejam corretos desde o começo. Eu não acho que as adolescentes se exercitem o suficiente, por exemplo", ele disse. "Precisamos criar oportunidades de ter essas conversas. Deveríamos começar na pré-puberdade, por volta de 9 e 10 anos, quando elas já são maduras o suficiente para entender essas questões."

Mas nem todos concordam e outros especialistas argumentam que 9 anos pode ser muito cedo para se ter uma discussão sobre começar uma família.

Norman Weels, do Family Education Trust, disse que "Há sem dúvidas uma hora e um local para comunicar a mensagem sobre a queda da fertilidade feminina e sobre o fato de que a maternidade não pode ser adiada indefinidamente. Mas a maioria dos pais acham que esse momento não é antes da puberdade e em uma sala de aula de uma escola primária". 
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Eu não sei se 9 anos é ou não a idade correta. Mas o que sei é que esse tema precisa, sim, urgentemente, entrar na agenda educacional e na agenda do mundo. Não dá para as mulheres (e os homens também) ficarem achando que só depois dos 35 - ou dos 40, como muita gente pensa - é que pode haver dificuldade. Não dá para uma mulher ir ao ginecologista e não ser informada sobre infertilidade. Não dá para o mundo ficar te cobrando um filho, te fazendo perguntas inconvenientes, te pressionando dia após dia.

Fala-se tanto em empoderamento atualmente, mas ainda falta muito para empoderar a mulher que não consegue engravidar. Não conseguir ser mãe não é uma possibilidade que exista na sociedade. Fertilização in vitro é só coisa de artista que aparece na Caras - que, assim como muitos veículos de comunicação, insiste em chamar o procedimento de inseminação artificial, como se fosse a mesma coisa.

Só que não é a mesma coisa. E as pessoas precisam saber disso. Disso e de mais um montão de coisas ligadas à reprodução feminina.

Um adendo: resolvi editar o post só para deixar claro que acredito que o empoderamento deva acontecer para que a mulher possa tomar a decisão que ela escolher. Eu aqui falo sempre do meu lugar, que é de uma mulher que quer ser mãe e que não consegue engravidar. Lamento muito - e vou morrer lamentando - não ter sido informada de possíveis dificuldades com mais clareza, não ter sabido mais cedo do meu problema ovariano, não ter podido pensar na possibilidade de começar a tentar antes dos 30. Mas acredito muito que lugar de mulher é onde ela quiser e sou contra a ditadura de que só é feliz e pleno quem tem filho!

15 comentários:

  1. Não sou especialista para dizer a idade correta para começar a falar sobre o assunto, porém não discordo. Tanto que temos que falar, acho que os pais é que tem que estar atentos aos sianis de cobmpreensão das filhas, normalmente elas manifestam vontade de saber sobre. Antigamente se a garota perguntasse qualquer coisa do tipó era repreendida, acho que estamos mais próximos de mostrar a ela qiue não há nada demais. Conhecimento é o melhor caminho para as garotas saberem o que querem de seu futuro. Os pais precisam estar atentos aos sinais que as filhas dão de maturidade para o assunto, acho que não existe data certa. Talvez a minha com 8 possa ouvir sobre ou talvez com 12. Mas qunado perguntar, mesmo que implicitamente, não deve ser reprimida e terá direito de saber.

    Belo post. Adorei saber que existe estudos para saber a melhor idade. Apesar de saber que é genérico, nos dá uma base.

    Beijos.

    Blog Jovens Mães

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    1. Com certeza os pais têm um papel muito importante, mas acredito que a escola também deveria pensar em formas de abordar o assunto. Mas também achei importante saber que tem gente se preocupando e estudando esse assunto. Obrigada! bjs

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  2. Olha, o que mais me incomodou na reportagem foi a afirmação de que as meninas devem se cuidar "para garantir que seus corpos se mantenham em forma para engravidar".
    OI???
    Uma aula sobre fertilidade feminina livre e desprendida de discussões sobre questões de gênero e sobre feminismo é, na minha interpretação, mais uma forma de opressão.
    A mulher não tem que se manter saudável para ser mãe. Ela deve receber informações adequadas e fidedignas para que ESCOLHA o que quer fazer com seu corpo. Inclusive se quer ser mãe. Inclusive se quer se manter saudável para receber uma criança em seu corpo.
    O trabalho de condução do tema precisaria ser feito com muito cuidado e tato, para não virar mais um "tem que" na lista quase interminável do se construir mulher em nossa sociedade.
    Imagina a pressão para uma pré-adolescente? Ela PRECISA ser mãe. E mais: PRECISA começar ainda na infância a se preparar para isso.
    Veja bem, não sou contra informar as meninas sobre sua sexualidade, seu corpo e sua fertilidade. Acho que isso é muito importante e necessário. Meu ponto é: como fazer isso de uma perspectiva feminista, que não oprima ou sirva de instrumento de opressão para meninas, doutrinando-as na lógica da reprodução desde tão cedo. Acho temerário ter esse tipo de proposta nas mãos de um homem (o diretor, no caso).
    Muito interessante a postagem.
    ;)

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    1. Super concordo, sonho em ser mãe. Mas isso não deve ser uma escolha...
      A lista de "tem que" é longa demais...

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    2. Ártemis, eu até editei o post pra incluir um adendo deixando claro que eu acredito que o empoderamento deve existir para que a mulher possa tomar a decisão que quiser, seja ter filhos, não ter, congelar óvulos. E concordo plenamente que o assunto deve ser abordado com muito tato para que não acabe se transformando em mais uma forma de opressão. Não é fácil, mas é necessário.

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  3. Assunto "delicado", mas o que acontece lá em casa é o seguinte:
    Pequena desde nova tem seus questionamentos (normais de acordo com cada idade) eu sempre converso e tento ser o mais clara possível, exemplo ela já sabe que o pai "da" uma parte e a mãe outra e que ela como menina já nasceu com seu estoque de sementes e que com só poderão ser "usadas" quando tiver mais idade...é como uma fruta amadurece no seu tempo, mas estão lá. Um dia me questionou se as "sementinhas" do papai também ficavam na barriga e eu respondi sinceramente que não...e expliquei onde ficam. Ah ela sabe também que os óvulos tem fim, porém mesmo sendo informada conforme a curiosidade dela surge (ela ainda não me questionou como a sementinha do papai vai parar na barriga da mamãe) não acho que ela tenha noção da fertilidade ou infertilidade...acho que ela não tem ideia do que seja isso e nem ta preparada na idade dela ela só quer saber como o bebê é formado.
    Interessante e intrigante!
    Beijos

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    1. Thaís, muito legal você explicar dessa forma e estar ligada também na curiosidade dela. Acho que você melhor do que ninguém vai saber o tempo certo para informá-la das coisas. Bjs

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  4. Adorei o post! Ele pode desencadear um leque de opiniões diferentes e ficaríamos aqui horas e horas assuntando!
    Particularmente acho 9 anos muito cedo pra ter esse tipo de conversa... Criança tem que ser criança e ponto.
    Mas concordo muito no fato da mulher se empoderar ainda no inicio de sua adolescência, saber como seu corpo funciona, saber sobre sua fertilidade... Pra poder futuramente opinar se quer ou não seguir por esse caminho! Pq hoje é tudo muito simples, enfiam um anticoncepcional na menina sem nem explicar como ele age direito...
    Seria muito mais interessante se aprendessemos a fundo sobre o funcionamento do nosso corpo ainda jovens, né?! Hoje é tudo tão superficial...
    bjss

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    1. Sim, o início da adolescência também me parece um momento mais adequado para se abordar o assunto. Eu vejo também o papel dos médicos ginecologistas como muito importante: a partir do momento que uma menina/mulher começa a ir ao consultório ginecológico, deve ser, aos poucos e de uma forma bem pensada e estudada, ser informada sobre questões de fertilidade. Bjs

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  5. Adorei o post... levou a muitas reflexões! :)

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    1. Que bom que gostou, Andie. Tem muita coisa pra se pensar mesmo. Bjs!

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  6. Eu concordo que deveriam informar as adolescentes e as mulheres de forma mais clara, objetiva e direta (menos romântica) sobre a fertilidade. Os médicos só jogaram a real para mim depois que procurei tratament,isso depois de muito tempo perdido e muito sofrimento vivido.
    Teria feito muita coisa diferente se soubesse o que sei hoje.
    Beijos
    Ptt(Fiv-Amadurecimento da Alma)
    http://fivamadurecimentodaalma.blogspot.com.br/?m=1

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    1. É o mesmo sentimento que tenho e uma frustração eterna que terei: e se eu tivesse começado a tentar mais cedo, será que teria conseguido?
      bjs

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  7. Embora ache 9 anos muito cedo para este tipo de conversa penso também que muitas crianças têm amadurecido bem precocemente e precisam ser informadas de modo parricular à idade. Vejo muitas meninas novas sendo mães principalmente pela falta de informação.

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    1. Concordo, Aninha, que a informação deve ser pensada e adequada a cada faixa etária.

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